o velho ímpeto de sentir

Acho estranho ter lembranças fortes só por ver uma foto, ou por estar em certo lugar, ou sentindo a textura de algo, ou ouvindo certa música ou até mesmo um ruído. Ainda mais quando não é apenas uma, é um turbilhão incomensurável de memórias. Memórias de sentimentos que se transformaram em fantasmas do passado por não terem tido uma resolução adequada em seu término. É inevitável pensar em como seria diferente se algumas ações minhas tivessem sido diferentes. Mas também foi inevitável o que aconteceu. Talvez uma questão de maturidade ou de minha própria personalidade conservadora, se algumas eu não tivesse colocado um ponto final, poderia ter resultado em algo pior (ou talvez essa motivação seja só resultado de covardia), e as lembranças boas seriam dissolvidas em uma mágoa mútua que só tenderia a crescer.
Não é necessariamente um consolo que a maioria dessas lembranças sejam na verdade boas, porque isso me deixa pensando que eu posso ter evitado mais lembranças boas a serem criadas. Resulta em um subterfúgio para que eu continue essa mania egocêntrica de me isolar em minha própria bolha - algo que venho trabalhando para abandonar.
Originalmente, essa postagem foi concebida dentro do mar, enquanto mergulhava embaixo de uma formação de nuvens depois de mais um dia quente e abafado do castigante e cansativo verão. Estava escurecendo, o dia tinha sido mais outro excelente dia na praia com amigos, e meus hábitos de verão estavam me fazendo esquecer de todo e qualquer drama do ano que acabava de passar. E isso é algo consolidado, felizmente: o drama havia passado. Claro que outros irão surgir durante o ano, mas, os que passaram, definitivamente me prepararam para novos.
Confesso que as lembranças de quem lembrei são muito boas. Foi aproximadamente na metade do verão que nós acabamos juntos, em outra noite quente e agitada de verão, na praia. Foi tão gostoso e acabamos vendo o nascer do sol dentro do mar, sentados na beirada da areia. Essa cena iria se repetir diversas vezes durante nossos meses juntos, assim como as cenas no campo de futebol. Lembro com completa visibilidade de nosso tempo juntos, e, após o término, me perguntei até cansar porque eu terminei com você. Consegui ilustrar o motivo, porém ainda me pergunto se foi um motivo tão forte para terminar. Quer seja ou não, o que sucedeu isso também me proveu boas lembranças. E disso não tenho nenhuma dúvida ou perguntas para me fazer.
E, quero que você lembre-se sempre que pensei, primeiramente em você. Se tivesse pensado só em mim, teria deixado que isso se estendesse até tudo se deteriorar. Mas não o quis - depois de horas e horas a fio pensando na melhor forma de agir com precaução. E, depois de tudo isso, e depois de reler o que acabei de escrever, me sinto tão bem por ter tido algo tão especial com alguém ainda mais - e fico em espera por ter isso de novo, porque simplesmente não consigo mais suportar a volatilidade dos outros.

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