O ciclo não se faz de um

 Olhando para trás, nesses últimos dias de sentimentos mistos – ainda que pouco conflitantes, já que há uma certeza no fim que se procura e no qual se deposita o esforço e energias – e de uma nostalgia não pronunciada, mas tão inerente ao fim de um ciclo que por si só não representa de modo algum um circulo fechado que se encerra, mas um ciclo no sentido de um período de intensa transformação que nos moldou em direção a uma busca comum, ainda que sem percebermos de que estávamos começando a trilhar caminhos, seguidos por vontades e ideais – que, com alguma sorte, nos pertence, adaptados a nossas ânsias do conhecimento e experiência dos experimentados que nos cercam. Dias que vão passando em frenética e imbatível velocidade, porém velocidade essa que não suplanta o cansaço, que maximiza estes findos momentos deste ciclo – para o bem e para o mal. Olho para trás com um sorriso fechado, cerrado em incerteza, mas pronto para expandir-se. Agora torna-se clara toda a sorte de estar cercado por indivíduos de minha idade cujo conteúdo não é limitado pela preguiça e mediocridade do senso comum, e cuja eventual falta deste não se apresenta como limitação ou entrega ao fácil e fétido, mas sim uma motivação na procura e no crescer. É num contexto de inteligência que desenvolvi meu intelecto, aliado a uma curiosidade que não classifico de sorte nem algo do gênero – resisto em acreditar no desenvolvimento de intelectos próprio como algo intrínseco apenas a mim, já que considero ser intrínseco a mente humana por si só. Talvez sorte por quem encontrei, por quem convivi, por quem me envolvi, envolveu-me e com quem me relacionei, e por àqueles que pertencem a família na qual nasci. O sentimento misto é fruto do estresse, reconheço, e a tristeza que reside escondida sob animação – por sua vez escondida pela própria urgência que não é medo de não conseguir em si, quem sabe apenas a pólvora do gatilho do amadurecimento, cujo início ainda traz certa apreensão de não chegar lá, de ficar parado em uma estação insignificante, enquanto o trem para a capital partiu sem você. Essa tristeza é de abandonar justamente estes que foram de importância elementar para todo este processo que você está completando, pronto para se jogar em outros que potencialmente materializarão seus sonhos e aspirações. A tristeza constitui-se de camada fina, rompida ao você recordar especialmente dos momentos bons que passou ao lado destes – ou seja, ao perceber que na verdade a saudade só existe por que você aproveitou os momentos com devida intensidade, que superou os toscos impasses por boas risadas à beira da lagoa ou do mar, que tem histórias ao lado das mais diversas, incríveis e – como seria diferente..? – estranhas pessoas em um momento que era justamente desta diversidade que você necessitava, para desenvolver-se em alguém capaz de assimilar um planeta tão extenso e diferente, cujas paisagens, ideias e diferenças coexistem não como dificuldade ou instrumento de discórdia, mas como um agente de interminável mudança e transformações. E quando mundo para se explorar. Quantas pessoas e lugares por conhecer... E me resta a certeza de que irei levar estes que me acompanharam no ciclo que se encaminha para uma conclusão, que vou levar todas essas explosivas, recalcadas, absurdas, cheias de vida, de ideais irreversíveis e irrecuperáveis, os imaturos que hoje trabalham ou estudam calados e prendem seu interior para recuperá-lo de maneira que caminhem como indivíduos que devem ser. E só por constituírem-se como tais, já carregarei a felicidade desta certeza, de ter uma formação calcada nesta convivência.