Idiota aquele que ousa sonhar...

...em uma sociedade onde pensamentos próprios são ignorados, idealismo é repudiado e uniformidade é alta na hierarquia de uma população conformista.
Ainda assim, me recuso a seguir internamente um resto manipulado e me recuso a abandonar meus ideais, mesmo que isso signifique penar por aí cheio de preocupação. Também me recuso a me deixar levar por um estilo de vida cômodo onde ter uma casa perfeita e filhos saudáveis e estudiosos é o principal objetivo; assim como recuso rotular todos ao meu redor como marcas que variam apenas de procedência ou qualidade. Me recuso ser limitado a um sistema educacional tradicional e feito para se adequar às frustrações da população; me recuso a chamar um país que acabou de instituir a censura como algo válido de democracia.
Prefiro ser considerado um idiota no meio de uma epidemia de ignorância à seguir essa filosofia de fechar os olhos ao observar algo errado... ou pior: de fechar os olhos para qualquer possibilidade de conhecimento.

swimming the same deep water as you is hard

Raramente transpareço, mas nutro enorme preocupação com quem me relaciono, seja qual for a relação. Me sinto muito mal quando percebo que errei com alguém, quando deixei a película que envolve minha bolha pessoal atingir outra pessoa. Porém o que mais me aflinge atinge única e exclusivamente à mim: é a sensação (crescente e consistente) de que sempre estou distante das pessoas ao meu redor; como se nunca houvesse me sentido realmente próximo a uma pessoa. E sempre, nem que seja apenas uma parcela, a culpa é minha. O problema é que eu nunca consigo realmente me entregar para alguém, ou para relacionamentos, e acho tal ação inconcebível e em certo ponto impossível de se executar - no meu caso. Veja bem, não estou requerindo em nenhum nível a atenção das pessoas, até porque atenção de pessoas que me importam eu tenho. Muito menos acho que preciso de mais atenção ou de mais pessoas ao meu redor. O que eu realmente preciso é um ajuste pessoal que bom, como o próprio pessoal implica, eu tenho que realizar - e há bastante tempo. Adiei tal ajuste quando ele era inegavelmente inadiável e prolonguei alguns erros e confusões quais não deveria ter prolongado. Hoje entendo o porquê disso e o porquê de eu ainda estar cometendo tal atraso, e, apesar de pretender fazê-lo, não consigo imaginar exatamente o que tal é. O que sei é que ele é necessário e se não ocorrer vai desembocar em um terrível erro talvez maior do que os já cometidos, mas não há razão para pensar tanto nisso.
Distância; abismo; se sentir longe - em um sentido figurativo. Em meus relacionamentos afetivos essa palavra nunca me ocorreu em tom absurdamente forte, mas ela vem ocorrendo significantemente nos últimos meses em amizades, longas ou curtas. Sempre que estou em um grupo de amigos grande percebo o quão emocionalmente eu sou afastado deles e observador que sou, detecto ações entre alguns deles que não realizo com muita frequencia. Minha capacidade de real (observação: forte; verdadeira) aproximação é restrita e pequena, mas ainda assim maior que minha capacidade de demonstrar sentimentos no cotidiano - não que eu queira aparentar frágil à todo momento e em todas as situações. Mas isso não significa, de modo algum, que eu não queira se aproximar - e também não significa que eu não me sinta mal por não conseguir isso. A maioria das pessoas que me conhece além de algumas conversas quebradas vai provavelmente dizer que eu sou seco, egocêntrico e até frio. Pode ser, em algumas camadas, verdade, mas não é um fato consumado. Estava melhorando quanto à certos pontos de minha introversão pessoal, mas regredi bastante... é que a fragilidade me assustou. Por enquanto transfiro meu potencial pessoal para a escrita, que é minha maior terapia, e está sendo há algum tempo - e vai continuar provavelmente por muito tempo como sendo meu principal meio de exposição pessoal.

Citação: The Cure - The Same Deep Water as You

incluindo eu.

I get involved but I'm not advocating
got an opinion yeah you're well up for slating
see you've got a prescription and that makes it legal
now I find the excuses overwhelmingly feeble
you go to the doctor you need pills for sleeping
well if you can convince him then I guess that's not cheating
so your daughter's depressed well get her straight on the Prozac
but look, do you know... she already takes crack
why can't we all; all just be honest?
admit to ourselves that everyone's on it
from grown politicians to young adolescents
prescribing themselves antidepressants
how can we start to tackle the problem...
if you don't put your hands up and admit that you're on them?
the kids are in danger they're all getting habits
'cause from what I can see everyone's at it...
everyone's at it...
everyone's at it...
everyone's at it.

Lily Allen - Everyone's At It

imensurável

Eu acho extremamente absurdo quando eu ouço uma música e, ao longo da mesma, me encontro passeando por certa época passada. Seja pelo verão do ano passado com suas linhas delineadas na areia após intermináveis e agradáveis caminhadas pela praia, seja algum relacionamento, seja um simples porém marcante acontecimento. Me sinto corroído às vezes pela nostalgia que me invade ao ouvir tais músicas. E não pela lembrança em si, que geralmente é boa, mas sim pela percepção de mudança que toma conta - é imensurável as mudanças pelas quais passamos, especialmente nessa faixa etária, ao longo de relativamente curtos espaços de tempo. É a invasão dessa percepção que transforma a mudança em algo incômodo, porque, como poetizou Renato Russo, o imperfeito [quase sempre] não participa do passado.
Os relacionamentos, os gestos, os risos, as conversas, as ações, os sentimentos, as entradas no mar, os tropeços, as noites em claro, os momentos, as cobertas no chão, os livros... era tudo tão diferente. Diferente porque minha visão era outra (não completamente, mas bastante), minha percepção era outra, minhas preocupações eram outras. Pode ser exagero, pode ser uma reflexão absurda depois de outra ainda mais pela qual passei, mas no final o importante é valorizar o passado com toda a elementariedade que ele proporcionou; mais importantemente: toda vivência pela qual passamos, e a transformação pela qual sucedemos. Porque é sempre importante mudar, sempre. Ficar parado no mesmo lugar significa poucas memórias no futuro, o que significa que tal reflexão que estou fazendo agora não iria acontecer, pelo simples fato de uma abstinência de nostalgia. Foi bom, passou, foi excelente, passou; mudei e as pessoas ao meu redor mudaram - e não só no sentido de serem outras pessoas, porque mesmo as que continuaram enfrentaram uma profunda transformação.
Mas ainda assim, os resquícios do passado - e o às vezes irremediável sentimento de que houveram sérios erros que poderiam ter feito toda a diferença - podem ser perigosos, e é logo aí que não conseguimos fugir da nostalgia. O futuro se estende a nossa frente para aplicarmos tudo o que essa evolução de maturidade nos fez, de um modo ou de outro, aprender. Está aí para não repetirmos - e repetirmos também, porque sempre acabamos fazendo tal - velhos erros e errarmos mais para aprendermos mais. Mas sempre volto àquela questão terrível; a mudança levou o caminho certo?

half awake in a fake empire

Diariamente somos postos frente a frente (e testados) com pressões quanto à prosperidade, aparência, higiene, sentimentos e tudo que possa transparecer ao resto da humanidade. Essa pressão é tanto indireta quanto direta, e, possa dizer você o que quiser, sempre acabamos sucumbindo a ela. Não é preciso alguém falar diretamente, a exposição nos leva a paranóia. É normal e, mais verdade, natural do ser tentar se adequar a sociedade ao seu redor e ser consequentemente aceito pela mesma. Isso nos leva a colocar em nós mesmos diversas máscaras internas que variam do gosto musical a atração física por outra pessoa. Somos postos contra a parede numa base diária e, mesmo sem perceber, dilatamos nossas próprias verdades para dar vazão a tal pressão.
Me parece inconcebível se esconder em certos assuntos, mas é perfeitamente entendível - depois de se entender que tal julgamento é incrustado em cada um de nós. É interessante notar quais caminhos tal comportamento pode levar, e se deixar levar muito pela questão do externo e do que alguém pode eventualmente vir a criticar você te torna uma pessoa infeliz - fingindo que é feliz. O pior é quando você não só se esconde para o resto do mundo, mas se esconde para si mesmo. Aí começa a viver uma mentira que se transforma em uma bola de neve de insegurança e medo. Claro que é sua escolha se esconder, mas é tão claro (ao menos sobre meu ponto de vista, meu julgamento, para usar uma palavra mais correta) que ao admitir certas coisas, você vai ser sentir melhor por algo muito simples que é a conquista de certa liberdade. E, num mundo nada democrático como o nosso, se agarrar a um simples fio de liberdade, que seja, pode fazer muita diferença.
Como Antoine de Saint-Exupery disse, certa vez:
Algo que sei é que uma das liberdades é a liberdade da mente.
Citação: música do The National, Fake Empire.

you're a delicious, come and feed me

Quase onze horas da manhã. Droga, acordei atrasado mais uma vez e vou chegar mais uma vez atrasado em casa. Não que isso me incomode muito, afinal, acordei com vista para o mar e ainda com alguém para quebrar a hipotermia natural do inverno. Passamos uma noite ótima em companhia da areia, do oceano e de algumas garrafas de bebida apenas para depois assistirmos um filme qualquer dos anos 60 na televisão pelo fim da madrugada. Alguns goles de vinho, algumas palavras quebradas, alguns cigarros e travesseiros confortáveis. Ambos já estávamos, naquela altura, rindo de qualquer coisa que poderia aparecer na nossa frente, então tudo estava agradável e natural - como sempre fora, na verdade.
Para falar a verdade, nosso relacionamento sempre foi baseado em algumas simples palavras que algumas pessoas não conseguem entender: casualidade, diversão e (em certo grau) companheirismo. Tudo, entre nós dois, seja em uma festa qualquer ou seja em seu quarto ou minha sala, sempre ocorreu de um modo natural e sem muitas delongas, e também sem preocupação. Você concordou com esse tipo de relacionamento e, atualmente, é o único tipo de relacionamento afetivo no qual eu estou disposto a me enrolar. Felizmente somos parecidos nesse panorama de parâmetros amorosos e conseguimos separar uma coisa da outra.
Eu sei muito bem separar coisas, sou tão bom nisso que às vezes me torno maníaco por isso - fruto de uma personalidade menos flutuante e mais realista, bastante realista na verdade. Não sinto necessidade de namoro, não sinto necessidade de um relacionamento fixo, para falar a verdade nem sinto necessidade de ter alguém ao meu lado sempre - para ser mais realista, vamos dizer assim, preciso, primeiramente, de mim mesmo e de alguns momentos sozinhos porque sem esses fico no limitrofe do estresse. Porém, atualmente, sinto uma necessidade maior (e crescente, diga-se de passagem) de pessoas. Não de pessoas ao meu redor, mas de determinadas pessoas em determinados lugares. De você, você com quem comecei meu texto, adoro dividir momentos - porque eles são despreocupados, sem drama e deliciosos. Seja dividindo uma garrafa de vinho chileno, um ham (só você vai entender), um cobertor ou um Carlton branco, tais momentos são marcantes. Não pretendo abandoná-los mas adoraria deixá-los como estão atualmente, sem evoluir para nada a mais (e sei que tu vai concordar com isso plenamente): despreocupados, leves e sem compromisso.

Citação: música do Semisonic, Delicious.

great expectations

Não acredito que, ao chegar em um amigo e se sentir particularmente distante dele - e não, eu não digo no sentido de ter se afastado, mas no sentido de nunca ter sido próximo suficientemente ao ponto de dividir intimidades -, que isso signifique que esse outro não seja realmente seu amigo. Afinal, o que é a definição de amigo? Alguém no qual você confia? Mas aí acho que seria alguém confiável, quer dizer, eu posso confiar na minha tia mas será que eu divido minhas confusões e vivências do cotidiano ou intimidades com ela? Não. Pode ser alguém com quem você divide tais intimidades então. Talvez. Mas a amizade é algo relativo e, querendo ou não, as pessoas mudam assim que o cenário muda. Jurar amizade eterna e que vai estar sempre ao lado é infantil devido à isso. Não que as pessoas sejam recicláveis, afinal, um amigo de verdade (e só você, aí dentro, vai saber quando um amigo é realmente de verdade) estará para sempre na sua memória - ao menos, lá. Querendo são esses amigos que vão te influenciar e vão manipular sua personalidade - não por querer, mas pelo simples fato da convivência.
Tenho um amigo que conheço há pouco menos de dois anos, e, bom, ele não é exatamente a pessoa mais próxima a mim atualmente (nem nunca foi e provavelmente nunca será), e nem eu conto nada realmente íntimo que se passa, e ele muito menos. Ambos sabemos o porquê de nunca termos conseguido ser realmente próximos - e entendemos -, e as duas razões são opostas. Se vemos todos os dias, não temos muito a ver - um meio sonhador e voador, e eu, bom... vamos dizer que um pouco mais pé no chão - mas ainda assim nos damos relativamente bem. Eu o acompanhei durante a fase mais complicada pela qual ele provavelmente passou, e ele também me acompanhou durante uma fase (não igualmente) complicada. Ainda assim, nunca ficamos realmente próximos - mas sabemos que podemos contar um no outro e até certo ponto confiamos no julgamento do outro e tudo mais.
Eu não sei o porquê de escrever sobre isso agora, mas simplesmente comecei a pensar e achei um fato engraçado, e serve para sintetizar isso que é a aproximação de pessoas que pode resultar em diversas pontes emocionais - adoráveis, benéficas, perigosas ou doentias. Sejam quais sejam tais caminhos que tais pontes levem, o risco sempre vale a pena, porque, afinal, somos dependentes dessa forma de nutrição humana. Querendo ou não.

Citação: livro do Charles Dickens, Great Expectations (Grandes Expectativas), que ganhei do Theo. ótimo!

when music stopped

The sun was setting high when music stopped and everyone felt wasted and corrupted. After a party like this you could have the biggest amount of fun you ever had, but there’s no way that you won’t feel heavy inside. There’s something about it that just makes you – or eventually will – feel bad about yourself. The rave was made in a Wednesday night and there was still class in the day after – nothing that really was a barrier to those teenagers. Some of them stayed in the little beach facing the lazy blue bay and some of them went to someone’s house to take a shower and rest. It had been a rough occupied night - but most of them were still too stoned to understand what happened.

filosofia de bar

why attach so many strings on someone else?

why try to figure out everything at once when we have the whole time in the world?

why get so tied up when we have the possibility of being free?

what is the point? I just don't get it, and I think I never will.

meanwhile, I stay with my attempts of staying free and unattached.

and happy with those attempts, so, perhaps it's working.

summer breeze

once upon a time
when the cold wind that blows
when the cold wind that blows in my heart
it was a summer breeze and she
would meet me in Chinatown for opium and tea...
...lady don't you fall backwards,
come on and fall into my arms.

por um dos maiores poetas da música hoje,
Peter Doherty - Lady, Don't You Fall Backwards

What I can't possess still remains inside of me

O que eu não posso possuir continua dentro de mim - ótima frase. Talvez ótima para descrever isso tudo, esse sentimento que se tornou um misto de arrependimento, dúvida e confusão (porque dúvida e confusão são diferentes; enquanto dúvida é a falta de decisão, confusão é um emaranhado de sentimentos, escolhas ou caminhos dos quais não há como organizá-los internamente). Eu, por essência, considero primeiro eu mesmo - como você vai perceber pelo empregamento direto e forte do 'eu' e de minhas opiniões pelo andamento dos textos. Isso acabou por minar as possibilidades de relacionamentos que eu tive, e acabou por fazer outros relacionamentos parelelos que não envolvem compromisso prosperarem. Eu nunca, e ainda não consigo, entender o conceito de se entregar totalmente a outra pessoa. E não me venha com clichés de romances do século XX porque não os consigo engolir igualmente. Mantenho meus pés no chão em qualquer circunstância.
Confesso que essa posição me fez deixar pessoas que fizeram muito bem a mim e contribuiram muito para o que eu sou hoje e como eu me desenvolvi, tanto emocionalmente quanto intelectualmente. Pessoas que me fizeram sentir bem e mudaram o meu engessado redoma onde eu encimentei tudo que era pessoal e dali não queria expôr para ninguém mais. Mudaram para uma estrutura mais frágil, o que, ao invés de me fazer mais frágil, me fortificou. Me fortificou pois ao você expôr o que você sente para alguém que confia [e mais importantemente, a alguém que entende algo de ti], pode te ajudar enormemente e até te fazer amadurecer. O egocentrismo não é uma qualidade (apesar de ter seus benesses) e te faz um cabeça dura lamentável. Aprendi isso mas ainda não aprendi muito disso (afinal, sou muito novo para compreender bem qualquer coisa), o muito seria ao ponto de amadurecer. Sinto que estou nessa transição que me deixa com uma identidade ambígua, ambiguidade essa que, junto com o egocentrismo que me pertence, me faz extremamente inseguro e incerto sobre tudo que me permeia e me invade - uso o termo de invasão pois, quando me sinto íntimo de alguém, me sinto terrivelmente invadido.
Tive uns poucos relacionamentos sérios e os que tive foram pequenos mas tais faixas pequenas de tempo foram as que mais influenciaram o que viria a seguir. Um relacionamento eu era muito novo e estava muito abruptamente rompido por tudo o que vinha de novo pela minha frente, aquele momento de transição em que tudo é movido por curiosidade, impulso e esfervescência. Esse relacionamento a qual me refiro foi um dos mais fortes pelo qual passei e foi num momento de total transformação. Até hoje lembro de meus momentos dentro desse relacionamento com bastante carinho, porque foi realmente algo bonito. Às vezes me pergunto porque não continuei e não entendo de modo algum como fui terminar algo tão promissor; às vezes entendo perfeitamente o porquê do término. Mas esse faz um bom tempo. Não me sinto mais preso a ele, assim como não me sinto preso a nenhum relacionamento - nem nunca me senti, ao menos não admiti. Mas confesso estar com resquícios de relações que tiveram profundo impacto no meu inverno e até hoje me deixam pensativo todas as manhãs entre um cigarro, uma música, e um copo de café.