a recusa

Você pode se recusar à pensar; você pode se recusar à se envolver; você pode se recusar à refletir. É a questão do livre arbítrio, da liberdade de ser ignorante mentalmente, de sucumbir ao comodismo tentador que permeia todas as atividades de um mundo onde criatividade é reprimida e cultura abandonada desde o ensino pré-escolar em favor do trabalho mecânico e repetitivo. Você pode escolher viver uma vida patética onde tudo se encaixa em uma casa no subúrbio, filhos, algumas idas à praia e a morte. Ao escolher isso, aceita-se uma imediata e corrisiva limitação não natural de um gigantesco planeta que nos faz parecer um grão de arroz no meio de um grande campo de centeio. É a recusa de explorar, de experimentar, de vivenciar. É aceitar limitar uma vida já limitada em um intervalo rápido de tempo ao tedioso e inanimado. É viver morrendo.
E há consequências. Pense nas estatísticas extrapolantes de separações, suícidios ou uso de drogas - ou até mesmo de adeptos das igrejas pentecostais, que sugam a mente [e o dinheiro] do povo mais desfavorecido intelecutalmente por uma pesada manipulação, e o que também é feito pela televisão etc. As pessoas cansam da recusa - porque a recusa faz mal, porque vai contra nossos princípios herdados relacionados à ânsia irrecusável que o humano possui. Uma hora ou outra, no fino trecho dessa patética vida que os que recusam trilham, você para, finalmente, para pensar. E, ao fazer isso, surgem diversos novos caminhos que atiçam sua curiosidade e ativam seu paladar a longo perdido. Não se deixe cair na armadilha da recusa; ela trás graves consequências - consequências essas que após algum tempo, gasto na recusa, não tem como se voltar atrás, porque o tempo trabalha em nossa oposição. Como ouvi em algum lugar; você pode bater sua cabeça na parede, mas não pode evitar a dor que isso vai proporcionar. Você pode recusar o que lhê é natural, mas não pode evitar se sentir inútil e preso em uma vida sem sentido ou paixão.
É um tortuoso caminho que envolve diversos perigos e obstáculos, diferentemente do caminho da recusa que é uniforme porém também cheio de percalços. Eu estou na metade de minha adolescência e estou sendo chocado com a iminência de responsabilidades, de sair de casa, de escolher um representante pro meu país. Estou sendo chocado com a iminência de escolher qual caminho seguir - e o choque é grave, pois sei que as escolhas que faço nessa faixa etária vão refletir no resto de minha vida. Eu não sei de muita coisa, não possuo muito conhecimento - comparado aos mestres que cada vez mais eu valorizo, mestres literários, musicais ou até professores - mas sei que não quero seguir por um caminho pré-determinado e já atravessado por tantos infelizes que morreram sem levar muita vivência. E viver é exatamente o que eu mais quero.

you who ran the ship

Depois de tudo errado que aconteceu - julgando que a separação fora completamente danosa, o que não foi - fiquei dias e noites pensando não no que acontecera, mas em você.
Começou com o invariavelmente agitado dia no qual nossa relação se iniciou. Conversando com um amigo meu, você estava próximo com o namorado dele trocando qualquer confidência; ambos fora de vista - ao menos naquelas luzes confudíveis, quase intoxicantes. Eu me sentia um pouco vazio e pesado com culpa, herdados de algo que já havia passado mas ainda estava fresco em minha memória. Você chega, com um copo contendo algo colorido na mão. Parece meio perdido e meio ingênuo; seus cabelos louro-escuro estavam retocados de suor; seus olhos castanhos brilhavam ao se chocarem com tais luzes intoxicantes da boate. Todos estavam em movimento; era o auge da noite e éramos os únicos parados, enquanto o casal que nos acompanhava dirigia-se para a lotada e enérgica pista de dança. O seu amigo fez algum sinal estranho para mim que vim a entender apenas mais tarde, apenas havia entendido que se referia a você. Não havia a possibilidade de conversa, não com entendimento... você veio calmamente, logo pensei que fosse tentar algo, como os outros impacientes e ignorantes membros dessa geração agora costumam fazer, friamente e sem sentimento (citando Baldwin, como um fio ligado a uma tomada sem corrente elétrica; há o contato mas não há troca de calor, vibração, não há verdadeira energia), porém você não prontamente o fez. Me chamou para a praia, com aquele rosto tremendamente lindo e aquelas expressões corporais corporais infantis que eu passei a conhecer tão bem e pelas quais passei a nutrir tanto carinho. Ao passar pela segunda pista até a porta de saída você tomou minha mão. Nesse momento senti que não seria algo de uma noite nem algo infrutífero... e nem foi o ato de pegar na minha mão, e sim como você tomou-a.
Ao chegarmos a praia, prontamente começamos a conversar, iniciando com o relacionamento de nossos amigos, indo para particularidades deles, até evoluirmos à nossas particularidades... sua timidez (aparente e presente, mas disfarçada por um pouco de álcool) fez seu rosto ir avermelhando, assim como fez você mexer mais e mais no cabelo. Você me olhava de um jeito doce, tão doce que conseguiu quebrar a opressão que eu mesmo impunha aos meus sentimentos. Olhou para o mar observando as luzes de Balneário Camboriú, e comentou como era bonito; logo me identifiquei com esse culto a natureza seu. Começamos a falar sobre o mar, a praia, o lugar; em um momento você, me ouvindo falar, olhando em meus olhos, me beijou. Fui tomado por uma intensa energia e agradabilidade, e não era por causa do álcool consumido na noite - até porque não fora muito. Era uma noite absurdamente quente e voltamos para a pista e dançamos até estarmos encharcados de suor, e saímos correndo para dentro do mar, de roupa. Você molhou seu celular, eu molhei meu dinheiro, mas nenhum de nós nos importávamos com isso. Depois de alguns mergulhos e conversas quebradas, sentamos na beira do mar e lá ficamos até o sol nascer. Foi um dia tão legal que, mesmo após tanto tempo que se passou (... nem foi tempo perdido) consigo descrevê-lo perfeitamente, com detalhes.
E depois desse tempo que se passou, não consegui corresponder seus sentimentos à altura, por diversas razões que nem eu consigo explicar direito. Acabou, não sei se deveria acabar, e acabou se empilhando junto com meus relacionamentos que geralmente acabam por minha causa. Mas eu ainda penso bastante em você... como aquele que mitigou minhas concepções sobre basicamente tudo.

everything I loved got broken on the road to mandalay

save me from drowning in the sea
beat me up on the beach
what a lovely holiday, there's nothing funny left to say

every mistake i've ever made
has been rehashed and then replayed
As I got lost along the way

Robbie Williams - Road to Mandalay

I'm in love and I'm so fucking helpless.

Me pegou de surpresa, foi muito rápido, inexplicável e eu ainda estou abismado. Você chegou, meio que sem querer, e prontamente aguçou todos meus sentidos e roubou meus pensamentos com seu rosto, voz e jeito. Eu me sinto absurdamente - absurdo é uma das palavras que definem com mais proximidade tudo isso - bem e livre ao seu lado, principalmente quando estamos só nós dois conversando. Você tem esse curioso jeito que é tão despreocupado, impulsivo e até meio infantil (o que é absolutamente delicioso porque convivo entre pessoas que sempre estão tentando parecer maduras e inteligentes, incluindo eu), esse jeito que me deixa tão bobo ao teu lado. Esse jeito que eu analiso tanto. E tudo parece muito certo, ansiar como tanto venho ansiando te ver, ficar mais tempo na escola só pra conversar com você por vinte minutos do intervalo. Mas também vai contra meu duradouro estilo de vida de ser independente e ser uma pessoa de muitas pessoas. Você me deixou sentindo como se estivesse mais pronto para entregar mais do que eu entreguei nos meus últimos relacionamentos, de realmente entrar em um, abandonando todas as outras pessoas desses relacionamentos paralelos. Vai contra meus preceitos esse tipo de pensamento, sempre foi, e por isso dei passos para trás. Mas não aguento mais dar tais [retrógrados] passos, e com você não vejo como conseguir - como um tsunami mental que transformou minha ilha pessoal em nada mais que um mar. Não quero também ser hipócrita e trair minha crença de que é inaceitável ser comandado por alguém que não seja você mesmo, e nem estou querendo dizer ir contra essa afirmação aqui, até porque esse não é o caso. O que talvez seja mais agradável disso tudo é que você não é dramático ou exigente, um grande contraste da última pessoa que me roubou os pensamentos - que vejo como alguém doentio hoje em dia, mas alguém que me ensinou muitas coisas ainda assim.
Sei que estou entrando em campo minado - para você aceitar algo terei que te dirigir por coisas [i.e. sentimentos] completamente novas que sei que você recusou por muito tempo. Eu sei ao sentir seu joelho encostando no meu toda vez que você senta ao meu lado; sei quando você me esperou hoje do lado de fora da sala, me procurando pelo vidro da porta; tive a certeza que precisava quando sentei no parque essa tarde com você. O problema é você aceitar isso, porque, bom, não é nada fácil. É o jeito que você me olha, é quando você chega próximo à mim e se encosta. Minha vontade é incontrolável mas vou em passos lentos pois sei que você ainda não está preparado psicologicamente - mas está perto. Não admiti inicialmente, mas estou apaixonado. Não posso fazer nada para mudar isso - não que eu queira - e percebo ao olhar as fotos que tirei hoje de você (sem você perceber), ao meu redirecionamento completo de atenção nesses últimos dias causado pelo assalto que você, sem querer, causou em minha mente - me fazendo rever ideiais que tanto alimentei. Dificilmente parei de sorrir durante o dia de hoje, dia em que passei a maior parte com você e que continuo sorrindo ao lembrar. Ao lembrar de você mordendo o copo de isopor, ou de mim sendo salvo de cair da arquibancada pela sua perna, de pegar na sua mão.
E agora, relendo o que acabei de escrever, vejo como isso é perigoso - quer dizer, entendo perfeitamente mas ao mesmo tempo não é meu estilo pensar sobre alguém desse modo, e, felizmente ou não, é tudo verdade. E na verdade poderia escrever muito mais sobre você, até porque não conseguiria escrever sobre mais nada mesmo, não nessa situação, não hoje. Mas é tão difícil configurar e entender o que está acontecendo comigo.

post-party seaside routine

Está amanhecendo, e você ainda está meio alto do álcool e de qualquer outra coisa da noite. Tenta achar seu agasalho ou celular, não acha nenhum dos dois. Divide, com alguma dificuldade de lembrar exatamente do que aconteceu, com o resto das pessoas também em um estado parecido pensamentos de como a festa fora absurdamente divertida e com quem cada um ficou ou aonde tal pré-adolescente vomitou. É hora de beber litros de água e o cansaço é tão grande que você não consegue pensar em dormir pelo simples conhecimento de que não irá conseguir; é hora de se perguntar se você realmente queimou aquela garota de propósito. Todo mundo já está organizando algo tão pretensioso como foi a festa, assim como todos estão – incluindo você – igualmente revendo o que acontecera há algumas horas atrás e o que pareceu acontecer – se aquela banheira azul realmente existia, se o mar estava em um nível tão alto assim, se aquele garoto realmente desmaiou. Estão todos parecendo terríveis zumbis mas ninguém está dando a mínima devido ao êxtase que se têm ao término de uma ótima festa. Para você, porém, só há um pequeno problema, além do cansaço eminente: não se lembrar do que aconteceu entre 3 a.m. e 5 a.m.

tomorrow afternoon

É tão legal quando, por acaso, sentimos uma atração muito forte por alguém. O tipo de atração que se sente logo ao ver a pessoa, e continua se sentindo ao trocar conversas, ao estar ao lado. Você logo percebe que não é casual – principalmente se ainda não aconteceu nada e você fica esperando impacientemente até ver a pessoa de novo. Você começa a perceber sinais; sinais de que ela também está interessada em você, mas isso não te empurra prontamente para uma ação com medo de estragar; deixa em um tipo de banho-maria que faz essa atração uma vontade meio incontrolável mas ao mesmo tempo gostosa também. É estranho e pode ter desviar de pensamentos fortes que você já tinha bem estruturado em sua cabeça. E, mesmo com os sinais, você se sente repreendido pelas eternas perguntas de se daria certo – quer dizer, dependendo de sua personalidade, mas ao menos comigo é assim nesses casos. Não é como se você fosse ficar com a pessoa em uma festa qualquer influenciado por álcool, e sim você se imagina ficando com ela embaixo de uma árvore em um dia quente de outubro. Ou perto da areia observando o mar. Não é do meu feitio falar ou sentir esse tipo de coisa, mas, quando acontece, me sinto renovado por um tipo diferente de energia. É perigoso também, atrações platônicas são complicadas pelo motivo de não haver um caminho na sua frente concreto com essa pessoa, apenas em sua cabeça – quer dizer, o que você quer que aconteça. Te pega de surpresa, porque nesse tipo de atração não é necessário manter conversas longas para tê-la, é apenas algo que você sente de cara e pronto. Dependendo de como ela se desenvolver (e é aí que entra tais conversas) tal atração dura um bom tempo ou vai se esvaindo com o surgimento de novas pessoas no seu cenário pessoal. Também é meio fora do seu alcance; você pode fazer algo mas fica meio que no acaso de esperar a oportunidade certa.

Já tive diversos pseudorelacionamentos desse tipo, e alguns se desenvolveram, outros não. Os que se desenvolveram me levaram a ótimos momentos e sentimentos que nunca pensei que iria sentir – independência [pessoal] do resto do mundo é um de meus traços, que são destroçados às vezes por tais atrações. Um deles em especial foi particularmente marcante, pois cometi um erro pelo qual fiquei me castigando por um bom tempo – e qual me fez regredir quando o assunto é namoro, coisa que já sou bastante atrasado. Não que ache que esse que acabou de surgir seja um caso como tal, as circustâncias são diferentes, a pessoa é completamente oposta à anterior e estou muito mais blindado emocionalmente para passar por tudo aquilo de novo. Mas de vez em quando me pego confundindo as coisas, como se tivesse me traumatizado pelo evento anterior, quase como se estivesse me levando a mesma coisa. Mas não é assim nem se desenvolverá daquele mesmo jeito, não há possibilidade. Mas não é como se eu pudesse pular fora, de nenhum dos dois, a qualquer momento – mesmo com toda essa blindagem (na verdade, ignorância) de sentimentos.

lord I'm doing all I can to be a better man

Por algum motivo que talvez remeta à minha infância regada a tardes na praia, observar o mar me acalma e adentrá-lo me renova. Assim como correr sem um ponto concreto de chegada, ou andar de bicicleta para simplesmente observar de perto e com atenção o fluxo que movimenta a vida urbana. Ver o sol nascer com alguém de um lugar silencioso, imergir em um estado ocioso no meio de uma festa. É o pulso, a sensação de estar vivo, de estar em constante e inacabável mudança. Sem isso acho que seria impossível viver - até porque isso é viver, certo? Imagino quantas pessoas já morreram de tédio ou de comodismo, e se me imagino morrendo, é por isso. Talvez seja só as sensações pitorescas da adolescência ou o verão chegando, mas de qualquer forma é bom se sentir no meio de uma mudança, sentir que há muito pela frente e há muito a se fazer. Sentir que há tanta coisa ótima e fresca ao redor que as vezes perde totalmente o sentido ficar triste. Temos estrutura para alcançar diversas coisas, não passamos por problemas grandes - miséria, fome etc. Existem pessoas ao nosso redor para nos socorrer, psicologicamente ou fisicamente, e podemos explorar nossa mente com uma interminável correnteza de informações, pensamentos e histórias que só irão pavimentar nosso avanço como humanos.
Olhe em volta, mesmo que por poucos segundos. Mas não para seu quarto ou para dentro de sua casa, e sim para fora. Nem que seja para observar uma árvore indefesa se movendo com o som do ar, ou um menino correndo com a sua pipa entre dois postes, ou uma velha senhora carregando o carrinho das compras. São coisas do cotidiano que, parando para olhar, parecem até um pouco estranhas. Sinta mais isso que te rodeia, isso que permeia, isso que te invade sem você perceber. Te influencia, te aterroriza, te felicita. Quanto mais conhecemos a vida que estamos adentrando mais teremos domínio sobre ela, talvez - é uma teoria, já que sei virtualmente nada sobre isso que me permeia.
São muitos os motivos para momentos inesquecíveis de felicidade, então não se prenda por doses cavalares de drama que você injetou em si mesmo para não viver tais momentos. Não se deixe amesquinhar por qualquer mágoa boba, não vale a pena. Estamos submetidos ao relógio que acompanha a vida - a limitada vida - e também estamos sujeitos a aproveitar essa vida, e escolher se iremos deixar demandas, pressões, preocupações e tristezas invadirem esse tempo precioso. É ultrapassado, mas verdadeiro: há bilhões de possibilidades te esperando no seu futuro, liberte-se e viva tais possibilidades, não deixe no mero 'eu poderia ter feito isso'.

Citação: Robbie Williams - Better Man

if it's hurting you, than you know it's hurting me

Depois do que aconteceu ontem, confirmei o que já suspeitava há bastante tempo: eu ainda não sei nada sobre relacionamentos. Nada - e, é com essa falta de conhecimento, que continua errando, e errando feio. Eu ainda não entendi como nós nos beijamos no meio daquelas milhares de pessoas, mas tenho minhas suspeitas quanto ao porquê. Já fazia mais de um ano que nós não dividíamos um momento assim, e nem era especulado (ao menos não por mim) que íriamos dividir outro. O senso de tempo que me pertencia se autodestruiu com tal acontecimento, mas de qualquer forma estava se esvaindo. Finalmente pude entender tudo o que você me disse naquele dia, e tudo tinha sua parcela de verdade. Apesar de o erro que eu cometi, há um ano atrás, tenha sido não proposital, suas referências ao meu caráter afastado e egocentrico eram, de qualquer forma, verídicas.
Mas foi ótimo o que passei com você. Tardes passeando pela praia com seu cachorro que sempre resultavam em entrar no mar ou se esconder entre as árvores, enquanto eu explorava um pouco mais do que havia por trás da sua timidez. Extrema timidez - que fez você aparentar frágil aos meus olhos. Mas definitivamente estava muito menos frágil do que eu estava. Lembro de, no dia em que ficamos pela primeira vez, estar razoavelmente influenciado pelo álcool e ter ficado no meu canto na frente da casa onde a festa estava tomando lugar. Você apareceu e estava um pouco menos bêbado, e começamos a conversar sobre qualquer coisa, e rir. Acabamos nos beijando e depois começamos a nos ver mais frequentemente, dividindo discussões acaloradas quanto à música, filmes e séries. Era tudo muito despreocupado e eu estava no meu momento mais despreocupado, e foi algo ótimo. Infelizmente eu estraguei a possibilidade de qualquer coisa ao cometer aquele erro que você detectou e eu nem sabia que estava cometendo ao ter feito. Ainda assim, com sua razão que não entendi no momento mas depois percebi que fora terrível, você terminou prontamente com qualquer coisa que tínhamos. E radicalmente, excluiu todo o contato que tínhamos - rápido e doloroso.
Definitivamente não foi a primeira vez que errei em um relacionamento, e não seria a última. Continuei errando, continuei aprendendo com os erros. Mas as vezes me pego pensando que não aprendi nada, pelo grau dos erros que cometi em seguida - até mesmo, ainda, com você, como cometi no domingo. Não dá, infelizmente, para voltar atrás, nem é possível diagnosticar os erros como verdadeiros, já que eles antecederam uma série de acontecimentos que também resultaram em coisas boas - e mais erros. Sei que vou continuar errando e ainda não venci meu medo e minha incerteza - incerteza essa que me deixa angustiado pelo fato de precisar de certezas e respostas para sanar minha ansiedade. Não costumo ser indeciso, minhas decisões são rápidas e até as vezes impulsivas, apesar de não ser impulso ao pé da letra. Por bem ou por mal os sentimentos não são uma ciência exata e é sempre algo inconcreto e abstrato, mas... sempre estará ali, inclusive o meu por você.

you're holding me back without even trying to

and then we saw our paths diverge
and I guess I felt ok about it...
...until you got with another man,
and then I couldn't understand
why it bothered me so.
how we didn't die we just
never had a chance to grow.

I can't let go, no, I can't let go of you
you're holding me back without even trying to.
I can't let go; I can't move on from the past.
without lifting a finger you're holding me back

Landon Pigg - Can't Let Go
música que transpareceu exatamente o que eu passei há pouco tempo atrás...
...e, admitindo ou não, o que eu ainda passo.

conversas permeadas pelo álcool e pela noite

Pelo começo da noite do domingo passado estava na beira do mar conversando com uma amiga, ambos sobre influência do álcool. Conversávamos sobre o futuro, sobre falhas nos relacionamentos e sobre hábitos que havíamos adquirido. Ela é três anos mais velha que eu porém dividimos opiniões parecidas, apesar de personalidades distintas. Estávamos jogando pedras ao mar e tive uma das conversas mais sinceras que tive nos últimos tempos. Ela disse algo interessante com o qual me identifiquei no instante: 'acabo transparecendo minhas falhas em relacionamentos com grosseria e ataques sobre os amigos' - de modo que, ao assentir com identificação, respondi: 'e ninguém consegue entender'. Falamos sobre o mecanismo de defesa pelo qual somos invadidos ao se afastar de pessoas nas quais confiamos devido aos relacionamentos quebrados e problemáticos pelos quais passamos.
Nos auto indagamos sobre nosso futuro, sobre a chegada das responsabilidades, sobre a ideologia que tanto nos permeia e nos conduz na adolescência e vai se esvaindo com a triste realidade do adulto. Machuca pensar que isso se transforma em uma realidade - sempre aquela realidade mitigada - ao passo do envelhecimento. Nossos ideais são traídos pelos fatos que somos obrigados a engolir; nossa paixão pelos nossos arredores vai sendo traída por nós mesmos quando fazemos uma fatal pergunta: vale a pena? (...) É interessante pensar que sempre vale a pena ter idéias próprias, ser independente, recusar ignorância. É interessante também notar que é difícil ter idéias próprias, simplesmente porque idéias próprias não são coletivamente aceitas muito menos encorajadas. É um plano de fundo forjado o nosso, mas aprender a se adequar é essencial, mas talvez não tão essencial quanto ter idéias próprias - pela simples vivência que tiramos disso quando temos.
Também discutimos tais falhas em relacionamentos, onde comentei que meu egocentrismo me levou a se sentir frustrado com a outra pessoa por ela não ter os mesmos pensamentos ou funcionar do mesmo modo que eu funciono. É extremo, eu sei, mas foi assim. Isso misturado com medo de seguir em frente que quebrou todos os relacionamentos sérios que tive - nenhum terminou de um modo agradável, até o momento. Relembro com carinho e sem nenhum ressentimento todos eles, e sei que todos valeram a pena, e felizmente causaram mudanças que teriam de ocorrer em dado momento. E essa frustração às vezes era demasiadamente insuportável e eu tinha que me afastar. É difícil ao extremo para mim lidar intimamente com pessoas diferentes, é por isso que sempre preciso de um tempo sozinho, e não digo isso num sentido dramático, mas apenas porque é natural e necessário esse equilíbrio para mim.
Mas, voltando ao assunto central, entre eu e minha amiga, adoro nossas conversas porque ela é uma das pessoas mais maduras (da minha faixa etária, digo) que já conheci. Essa tal amiga tem opiniões próprias, é inteligente, lê bons livros, ouve boas músicas. E, apesar de estar em um momento da vida diferente do meu, é sempre bem vindo dividir com ela um expresso e um Lucky Strike. É o tipo de momento que valorizo, e certamente esse, onde nós dois estávamos sentados numa pedra no quebra mar, observando a lua e as estrelas e tentando ignorar a terrível música que tocava alto da tal marcha, que me faz ver que é preciso ignorar todas as minhas frustrações que acabo colocando sobre pessoas que adoro, para apenas curtir bons momentos com elas.

it's still in here

every whisper in every night
dedicated to love each other
flies away through my head
and makes me believe
that it was a mistake let go
something so good...
every smell that made
your body a wonderland
now sinks into my nose
like a dangerous poison
to a narrow lifestyle I follow.
every song we listened
in those slow silly days
now plays in my ear like
a muddy land of memories.