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anti-hedonistas (de merda)

A velha senhora entregou outro olhar, cansado, abatido, e deixou que seus dedos tocassem as margens da água daquela enegrecida e poluída lagoa. O menino continuou parado, esperando qualquer palavra dela, que lhe olhava tão atentamente pelos últimos minutos. Ela se encontrava na iminência de lhe falar algo, com o peso de uma voz que já atravessara anos e anos, e a densidade daquele intervalo preenchia o ar que resistia, gélido, primaveril, nostálgico.
Finalmente, então, ela lhe dirigiu as palavras.
“Você, menino, do alto de sua juventude, pode me explicar porque tudo está tão insuportável..?” Ela diz, e ele olha, sem entender a pergunta, com curiosidade. “Porque tudo está tão chato, tão sem sentido, tão plano... você deveria saber, está crescendo no meio de tudo isso” ela continua, olhando para um ponto fixo na lagoa porém sem estar realmente observando nada.
“Como..? Me desculpe, não entendi” é a resposta que ele entrega a ela, algo que a senhora recebe sem surpresa, como se já esperasse aquela falha de comunicação, uma que não era exatamente referente ao abismo de idade entre ambos, e sim uma ruptura cultural.
“Sim... quero dizer, vocês estão no meio de tanta possibilidade, com seus computadores, com tanto movimento, e parecem cada vez mais parados... é tanta coisa nova querendo proibir a geração que está por vir, a sua, digo, são tantos artifícios querendo impedir vocês de se divertirem ou dizerem o que pensam e vocês simplesmente recebem isso de braços abertos, ao mesmo tempo em que tem tanto poder e tantas ferramentas...” diz ela, confusa, rapidamente, inicialmente parando apenas para respirar - mas, ao notar a confusão nos olhos do menino ao seu lado, volta atrás. “Não entende ainda, menino?” ela pergunta, outra vez, numa voz ríspida, irritada, porém pouco surpreendida.

A lagoa continuava linda, ela pensava. Os que passavam correndo, em suas roupas de esporte, ou com seus cachorros, ou os jovens com aquelas câmeras sofisticadas que para pouco serviam... onde estavam os risos reais, os grupos, as latas de cerveja, os maços de cigarro?
E o menino, que já caminhava de volta para qualquer outro lugar, cujo andar pausado revelava uma confusão advinda das palavras que absorvera daquela velha senhora, ó, que pena desse que vai ter que enfrentar uma época tão... chata, monótona.

a estupidez do altruísmo

“My happiness is not the means to any end. It is the end. It is its own goal. It is its own purpose" - Ayn Rand

Viva para os outros e pelos outros, se preferir - afinal, a prerrogativa é sua, a capacidade para tal atrocidade é sua e você só comete para si mesmo. mas não tente interferir no direito intrínseco à minha escolha, e se mantenha longe de qualquer interferência quanto à natureza dos meus atos, se eles não te atingem.
Em primeiro momento, você estará vivendo com o brilho superficial que o prestígio de outros homem lhe confere, mas se encontrará, mais tarde, pagando pelo fardo da escolha de abandonar o conjunto de valores que o indivíduo mantém em seu ínterim, abandonando um direito fundamental conferido ao nascimento, e inseparável do “eu” e da construção do mesmo. Falo de um direito, àquele que nos permite construir, modificar, desenvolver - para o benefício dos próprios, para vermos, edificados de alguma forma, o fruto de nosso trabalho. O direito que permite a felicidade mais real, mais pura, mais limpa de qualquer ruído externo - simplesmente porque pertence a apenas um ser, e isso é impossível de se ferir ou romper de qualquer maneira.
Escolha esse caminho, caso queira. Não me importa, não me interessa, não me atinge. Me frustra perceber coisas com as quais não concordo serem defendidas por uma maioria, me assusta perceber tangível nas massas todos aqueles ideais que desprezo e que mantêm um sistema improdutivo e desrespeitoso, destruidor no que se refere à capacidade de cada ser. É frustrante. Faço meus pensamentos e meus ideais - àqueles os quais nenhuma multidão, não importando seu tamanho, pode sequer questionar - se transcreverem em opções. E, caminhando com esse conhecimento de causa e efeito, de poder individual, caminhando livre, o ar fica menos denso, os cenários se cristalizam e se sucedem de maneira mais sucinta e racional, mesmo que infestados de uma irracionalidade que premia o terror, que valoriza o podre e improdutivo, que repudia a busca pela felicidade em detrimento do conforto da piedade...

ecstasy

Take one deep breath. Feel the salt clinging through your throat and let the course of the wind blow new thoughts into your mind - and, more fundamentally, open your mind to the uncountable lines of poetry which fluctuate our everyday life even though we know little about them, and we fail to perceive it amidst our own selves.
As the waves reach your bare toes and your hair loosens up with the rush of the breeze, the strings also loosen up and you can feel your thoughts twisting in a inebriating tide of the pure oxygen you’ve been providing them, making them grow and conflict in order to form a powerful state of mind which leaves you wondering about the true meaning of this craziness which surrounds you, and you’re not sober anymore, and though drunk with freedom there’s no toxicity and you’re fine - and, oh, then comes that wonderful realization that the craziness and the crazy minds, everything else, what surrounds you, what you agree or disagree with, what you rely or spit on, what you enjoy or despise... oh, all of it: it’s your elements, it’s part of you.
The barriers - those you’ve completely forgotten, still high and stoned swimming through your most intimate, intricate and personal feelings, those who for all intents and purposes are your essence. And, suddenly, as the grains of sand continue to meet your legs carried by the ever-growing and changing airstream, you grasp that curious fact that, although intimate, it is such a universal essence, something so pure and disproved of any of the stupid fences we keep on putting in ourselves and on the others due to the fear of losing something we can’t even describe - but we are actually losing it all, losing what actually matters the most, losing the meaning of everything...
You’re dizzy and it all spins around you and you’re astonished with your own realizations... and it gets heavy, only because it goes much, much deeper.
Now, your feet aren’t in the sand anymore, and the waves are off view, with the dunes covering it. The sun is setting down, and there’s that incredible sensation of fulfillment, that exhilarating bliss, and you feel the need of keep that going - but what you’re learning, that will endure - as well as that incredible receptivity to the endless possibilities of knowledge spreading all around you.
And, luckily, the wind will always be there.

Title: New Order - Ecstasy

one hundred lights

The night was humid and cold, however the intensity of the winter was now gone, and the wind hit with less roughness when on the bare skin. And that, as an announcement, was a prefix for the rapid springtime, which would dilute itself on the fluidness of the crazed summer. While trembling through the city streets he was unsure if he was longing for it or his mind was bound to freeze in the winter. With the cigarette still hanging unlit on his hands, he was fast-walking in the direction of nowhere – nowhere not due to the lack of direction, but due to this growing uneasiness which was resulting in a heavily disturbed personal state. He could taste the red wine on his mouth already, however it wasn’t permitted for him to drink a sip of it for the next days – and his mind was set to skip that on the following afternoon.
As he watched the street bums trying to arrange a dry shelter for their pipes to rest on, he finally lit the cigarette, and he sat in an uncovered bunch, moist, and paid some attention to the smoke lifting up to the sky. He thought about how much brilliance risen from such moments – moments of vagueness, moments where ideas came from, watching the cigarette smoke as it filled the area in front of it, and how much those moments contributed to society enrichment. The artists, the scientists, the industrials. But the structure needed in order to brighten his brain and lead to that state of mind still longed some maturity, and that reflected on the nature of the wasteland which hanged his wits.
The rain came again, and he ran, unworriedly, uncaring, not fast enough to stay reasonably dry, and there he ran to the closest covered bus stop. There wasn’t many people walking around in that particular night along those downtown streets – a weekday, and already past commerce working time – and the bus stop was empty. He thought about how much loneliness did those urban streets resonated at night - even though constantly bloated by many and many people whose life lines complemented each other without any particular interference, in this incredible state of harmony which couldn’t exist anywhere else except inside the intricate (and, some may call, the obscure) organism of the city. And, whether it didn’t resemble much heat from distance, the diversity applied into its mechanics make up for a hell of a passionate and lively pulse. And, as he wandered through those thoughts which weren’t exactly arguments, but rather the trail to a mind who was boiling with excitement and urgency, as he curiously wandered throughout his own in-formation ideological pathway he thought to himself that there could be nowhere else to live but inside of one of the big devices which constituted all of that built around him.
Though having some unfinished business, his psyche wasn’t particularly focused on them, and he felt light and nice. Confused he was sure he was – but at least he was sure of something. He smiled to himself and lit another cigarette, as the other fell down while he ran, and he did his usual observation. He could hear the usual sounds on the urban nightlife; the screaming, the police cars sirens going north, the cars always running by, the possible echoing of some random slaughtering somewhere... That urban fluidness gave him a proper ground, gave him a sense of movement and gave the time some needed worth. And those weren’t mere sensations – they were personal traces which belonged to them, in the sense that that was his true home. While some consider that to be a source for stress and wrath, he felt rather
embraced by all that amazing human labor, the skeleton and the foundations of its work. Whereas he didn’t perceived this every time, he was always feeling it, and, as he got out of the bus and lit his first cigarette in the primer minutes past sunrise, as the noise and the straightened faces hit them first thing in the morning, as he did those repetitive daily matters, he brought to his mind some inspiration. The general idea of the mechanical nature of those deeds are completely false – how could it be mechanical while entangled in such a vibrant and diverse background that the city life represents? The invented idea of the ideal daily life was a complete dystopian and false scenario – and he knew that with the conviction that he generally had in his ideological root.
The lights of a metropolitan bus coming his way blurred his eyes and prevented him from extending that thought – but he let it ran without stopping it, he wasn’t craving to go back home. He knew that, while back there, he would again fight with his mind, so he decided to take another walk, as the rain showed herself thinner. As the night fell through, the movement felt shortened, allowing the lights of the streets to risen its importance. Amidst the ecstasy of his thrill, however, he could smell something wasn’t right about all of that. He couldn’t exactly figure out what it was – maybe he lacked the books, the age, whatever reason – but he felt firm about the comprehension. The machinery was working, but it might was struggling to work with in its full power. Maybe it was one of those lampposts without any light in it.

em uma contradição, cheque as premissas

(texto sem nenhuma estrutura ou linearidade e sem nenhum propósito de o ser, nem fingir que o é)

Agora ele entendia. Enquanto se perdia pelas diferentes camadas de cor por entre nuvens de um fim de tarde que oscilou entre chuva até um sol avermelhado, ele refinava sua linha pessoal de pensamento.
E, finalmente, concluía - ainda que sem chegar exatamente a uma conclusão, porque ela nem existia, apenas a um pensamento concreto que refletia seus valores morais - que não o importava os julgamentos alheios, os olhares de repreensão, os gestos faciais que denotavam desentendimento - não, eles não iriam entender, nem deveriam, nem lhes em nada é importante entender. O que importava, ele pensava, eram os lábios daquela garota. Ainda que metaforicamente, claro - já que isso representava a confiança, a vontade, os momentos. Não era paixão, era uma autoconfiança exagerada que lhe servia para acentuar seu desprezo em relação as disparidades e hipocrisias dos arredores diários.
Seu raciocínio, caindo no cerne do que sentia, agora circundavam outros, e mais extensos, campos. Pensava na revolta que sentia com essas cordas finas, porém de certa forma resistentes por insistência (e não a força em si), que se impunham automaticamente como resultado de viver em um âmbito social, e que lhe impele para o isolamento, e que lhe deixa enojado, enquanto vê e sente o desperdício de mentes produtivas ocasionado pelo mais completo ócio - resultando nessa incrível roda-gigante viciosa que prova qualquer teoria do ser desprovido de luz - e não porque ele intrinsecamente o é, e sim porque ele ignora que, na verdade, não é.
Percebera que até havia esquecido de acender o cigarro, que estava passeando por seus inquietos dedos nos últimos minutos. E, outra coisa, percebera o quão aquilo ia longe - e sentia um misto de temor e esperança, e não entendia, em meio ao desespero da falta de pensantes... surgia-lhe a noção real de que todos tem tal capacidade, pois o são por natureza. Então porque a rejeitam? (...)

Citação: título adaptado de trecho do romance de Ayn Rand, A Revolta de Atlas

street sages

and, oh, those crazed old bums out on the streets
and the sheets they draw from underneath their souls
their conflicted souls, their rejected numbness
oh, my little girl, couldn't we..?
live a bit like they live, and free ourselves
make a scape through what is harshly though apparently clean
seems clean and it's actually the dirtiest of them all
I really don't feel like conformation today
I feel like living it up to my nature
I feel like experiencing outside presumable

the understood and proven methods
failing in a post-modern failed society
falling through fucked up bricks
absorbing what's left out of free spirits
and the walls rise up to protect unworthy shit
I could ask myself what's left
what's left of authenticity, mine, theirs
what's left of the street scent
of my insides and its colors
but i'd be greatly depressed while realizing
the reduced and simplified pathways
the ones that spill everything
and the certainty about some facts
and the line being drawn from this
sliding sadness, hanging around in the attics

tempos difíceis

Um dos sentimentos mais tangíveis que existem é a indignação – ou seja, a revolta contra algo que sua moral, seus ideais ou qualquer outro fator de influência julgam como errado. Leva aos chamados crimes de ódio, assim como a revoluções pró-liberdade ou mesmo à mudanças pessoais drásticas. Me levou, em diversos almoços, à quase quebrar a televisão, e chutá-la imaginando sua estrutura de plástico como sendo a cabeça de algum jornalista estúpido – algum dos diversos que ocupam os informativos do horário do 12h em qualquer emissora aberta, e que brigam para conquistar o primeiro posto no quesito sensacionalismo (i.e. jornalismo de brincadeira, direcionado as massas, que trabalha com choques para entreter). Os estágios de raiva por indignação que quase me levaram a tal ato espontâneo coincidiram com a duração do telejornal, aumentando com cada risada que as irritantes âncoras dividiam, com cada reportagem mostrando mais um corpo encontrado nas margens de um rio da periferia (e olha que não são poucos), em palavra pronunciada no pequeno léxico que parecem formar os jornalistas que trabalham em tais canais, e culminando em alguma matéria absurdamente importante e relevante – adverte-se pesado uso de sarcasmo na sentença – sobre alguma dieta supostamente importada de celebridades norte-americanas.
E o pior: na briga dos sensacionalistas por audiência, quem conseguir melhor alienar o público com seqüências que alternam entre o mortuário do Instituto Médico Legal, algum comentário de um membro da população “revoltado” (e aparentemente todos exibidos nas reportagens apresentam algum quadro de obstrução mental/incapacidade de raciocínio) e finalmente um “tele-alucinógeno” para as donas de casa sonharem com uma vida “de artista”, quem conseguir melhor apresentar esses quadros, ganha a disputa dos índices de audiência. É a mídia da estupidez, e, sem muita surpresa, é a mídia dominante, e digo sem surpresa porque é só observar os níveis de escolaridade ou o numero de leitores e traçar um paralelo.
Enquanto os estúpidos na frente das câmeras fazem a população, indefesa, oca, absorver ainda mais lixo midiático, o que realmente importa fica de lado, quem sabe recebe um espaço de alguns segundos como nada que valha muito a pena – ou angarie muitos espectadores sedentos por sangue e por satisfazer seus mais íntimos desejos sádicos. Um exemplo que deliciosamente evidencia isso é a deflagração das greves na educação que revelam a real falha que é a educação no nosso país. Em casa, pais se retorcem pelo mesmo sentimento que lhes falei no início desse texto – indignação. Seus filhos agora passam os dias inteiros em casa, ao invés de na escola, devido à greve no magistério. Governo, coloque os professores de volta à ativa, ‘meus filhos não tem para onde ir nas manhãs, ficam em casa!’. Governo que esses pais colocaram no poder, por votação democrática, depois de muito pesquisarem e depois de receberem informações por meio de um jornalismo responsável que faz de nosso país... percebem? No fim, tudo acaba influenciando. Estupidez leva à ignorância, que é a estupidez em si. E os pais, reclamando por um lugar para colocar seus filhos, um depósito, de qualquer forma que esse depósito seja, de qualquer grau de produção. Indignação pela qualidade tão ruim que chega a ser (no meu ponto de vista, claro) anos-luz mais chocante do que uma pilha de corpos em uma praça em qualquer periferia. Na interessantíssima matéria sobre tal assunto que apareceu no telejornal, lá estavam os alunos, indo para a escola e encontrando salas sem professores. Os corredores da escola, vazios, sem vida, em tons de azul apagado e formação aparente de rachaduras nas colunas igualmente pintadas de ‘azul-morto’. É para reforçar minha falta de esperança? No telejornal, no segmento que está sendo anunciado, de modo teatral, aparecem um grupo de moradores revoltados querendo asfalto. Ruas, asfaltadas, claro, para passearem com seus carros recém-comprados que lhe deixarão endividados por um período de aproximadamente 80 meses. Ah, espera, é o tal sonho da classe media...
Enfim, meu argumento não é em torno da nossa irresponsável economia domestica, e sim centrado em pura e simples ignorância popular. Eu me sinto aliviado por ter desenvolvido um discernimento ao menos suficiente para escapar da armadilha dessa epidemia (presente em todas as camadas sociais, reafirmo). Esse texto foi feito motivado não só pela absoluta má qualidade do jornalismo das massas do meu estado, mas também por pura admiração pela diversidade que encontramos ao nosso redor – os diferentes rostos, diferentes estilos, opiniões, modos de pensar. E a tristeza que ecoa do sufoco que a ignorância causa, abafando qualquer via de desenvolvimento mental que deveríamos buscar, constantemente, incessantemente.

Citação: título de livro do Charles Dickens, Hard Times.

o natural não está presente

Perdemos qualquer traço autêntico. É tudo sobre não estar sozinho, sobre ganhar, o que vale a pena tem propósito duvidoso. A esperança é meio reduzida, ao redor é tudo feito com um conluio meio triste entre poder e valor - ou é só ignorância mesmo. A observação anda se apresentando tão inútil por aí; se não há valor envolvido não há porque parar. É outra camada superficial protegendo um núcleo oco e ideais andam em rápida extinção.

"Aqui estamos, na margem da civilização ocidental,
enquanto continuamos a nos apoiar uns nos outros
e foder nosso caminho em direção aos últimos dias,
só porque estamos tão desesperados para sentir algo..."
Mia Cross, Californication
Citação: Gang of Four - Natural's Not In It

concedo aplausos

Na última quinta-feira (05/05), após alguns minutos em frente à televisão, não pude evitar um sentimento de orgulho misturado com outro de ânimo, ao ouvir os discursos que, um após outro, relatavam verdades que pareciam que nunca iriam ser expostas em nosso país. Era a TV Justiça, e o direito de casais do mesmo sexo à união estável na lei estava sendo julgada - e unanimemente foi concedida. A decisão foi acompanhada por uma polarização gigante de opiniões - e não só entre os afetados pela nova lei quanto por religiosos e extremistas cruéis e ignorantes. Sem dúvida, ela representou um avanço social pela busca individual a felicidade e uma consolidação de um estado laico sem religião oficial. Como relataram, não há espaço para interpretações religiosas dentro de nosso Estado de Direito - e levar tal em conta é ferir direitos individuais.
Mas os instantes de felicidade sucederam outros de espanto, ao ler os comentários em torno da decisão. De alienados citando passagens bíblicas aos que sentem saudades da repressão militar e referenciam como tal decisão afeta a estrutura nuclear da família - ao mesmo tempo que garante direitos a um tipo diferente de família constituído e já existente em grande número dentro de nossos territórios. É triste - perceber que uma decisão a nível superior não altera a mentalidade limitada de tantos por aí. Não que eu esperasse algo diferente. No fim, é uma questão de respeito mesmo, que se adquire com educação. E, num país onde de cada 4 apenas 1 é plenamente letrada, não é exatamente uma surpresa. Grande parte de nosso país também é afiliado com alguma igreja cristã - o que pode ou não refletir algumas de suas opiniões em relação ao tema. Podem ser contra. Podem ser a vontade. E o Supremo Tribunal Federal não tirou o direito de ninguém a ir em suas igrejas, de seguir suas doutrinas. O que isso tem a ver com a vida dos outros e porque isso tem que ferir a democracia?
Para quem orienta sua atração para outros do mesmo sexo, o ambiente continua hostil - mas agora, os direitos são parte integrante do Estado, que, por tal decisão, decide como ilegítima a decisão de quem podemos ou não constituir uma família. Não vejo problemas nesse debate, o problema é que o lado que é contra o reconhecimento de tais direitos não tem nenhum argumento sólido, nenhum, que sustente sua opinião. Ao menos eu nunca tomei conhecimento - nem há motivos para estarem certos. Até porque, como teriam? Não fere ninguém, apenas equipara direitos a uma parcela da população já castigada há tempos com diversos tipos de preconceitos. Não é a defesa de nenhum estilo de vida, de nenhuma orientação sexual, de nenhuma vertente ideológica, é apenas a defesa a justiça. E parabéns ao tribunal, garantindo uma vitória para toda a sociedade - sem nenhuma exceção.

what's your favorite scary movie?

Qual é seu filme assustador favorito? Em qual emissora de televisão ele está? Em qual esquina ele se encontra, ereto no chão? Foi por causa do tráfico ou bala perdida mesmo? A vista do ônibus do acidente que vitimou aquela família inteira estava boa? O motorista estava bêbado? A mídia conseguiu entrevistas com as crianças do massacre? Elas estavam chorando, fragilizadas, estavam como? Como estava a avó do garoto que morreu atropelado? Foi o pai ou a madrasta que empurrou a criança do sétimo andar? Ela é psicopata ou matou mesmo os pais sem querer? O ataque cardíaco do menino foi devido ao uso de cocaína ou ecstasy? Eles morreram assassinados ou foi pacto suicida? O travesti tentou agredir antes ou foi pura transfobia?
O filme foi trágico, sangrento demais para seu paladar ou faltou mais imagens chocantes?
Você não se cansou ainda da exploração da desgraça que te envolve? A mídia não apelou o suficiente, ou ainda falta mais um depoimento da mulher traída com outro homem?

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E atire a primeira pedra quem nunca se inflou com essa diversão sádica.

Citação: frase da franquia de filmes Pânico

qual é o problema das "crianças" hoje?

Você tem todo o direito de reclamar.
Tem o direito de reclamar dos preços, de seu peso, de sua saúde, dos políticos, de seus relacionamentos pessoais, de suas notas, de seu partido, de sua rotina, da sua conta bancária, de seus hábitos, de seu ditador, da qualidade das estradas, da falta de limpeza, de sua atividade sexual, do crescimento no número de mendigos, de vícios, da economia, de seu patrão, de seus empregados, do preço da passagem de ônibus.
Mas, com esse direito, vem um dever: o de fazer algo sobre essa reclamação, um protesto, uma tentativa de mudança. Isso vai desde uma dieta até uma manifestação nas ruas cerceada por policiais. É a básica lei de ação e efeito. Se você quer emagrecer, tem que se submeter a uma dieta e/ou exercícios. Se não quer engravidar ou pegar uma DST, tem que fazer uso de métodos de prevenção.
Se quer mudança, se reclama do atual, tem que se apoderar dos instrumentos presentes para promover essa mudança.
Reclamar é a base de qualquer melhora - mas tem de haver continuidade, se não sua reclamação vai ser apenas mais umas palavras soltas no ar. Falta força de vontade, falta incentivo, o que falta? É excesso de preguiça? Muito acomodado na frente das telas coloridas? Gostou de cair no modelo? Bom para você - pena que no fim você não ganha nada com isso. E não dá pra entender a graça de ficar parado, onde ela está?
Ninguém consegue nada apenas reclamando, apenas supliciando - talvez consiga pena, em alguns casos. E, mesmo nem sendo tão importante assim, a desistência de algo gera a desistência de outras, e, no fim, você é um ser sem ideais andando por aí sem nenhum conteúdo. Mas também é importante saber porque está se reclamando e achar meios de melhorar isso, e não apenas reclamar por reclamar e consequentemente protestar por protestar - e, ter alguma mentalidade e idéia estruturada por trás disso.
Aliás, o que aconteceu com os jovens de hoje? Nos rendemos tão facilmente assim? Estamos tão conformados assim? O que justifica esse cruzamento de braços, esse desânimo? No fundo, dá pra entender, mesmo sendo meio repugnante. Mas é só um pouco de educação de verdade (coisa que é difícil encontrar tanto em escolas públicas quanto particulares) e uma mente aberta. Buscar conhecimento.
Pesquise, escute, analise, aprenda, reclame.
Ou caia naquele conhecido ciclo vicioso.

Citação: NOFX - What's the Matter With the Kids Today?

irracionalidade divina

Que vivemos em um país com índices altos de homicídios e crimes violentos, isso todos os brasileiros sabem. Mas o evento que se deflagrou naquela escola pública carioca nessa semana não evidencia exatamente isso, mesmo que coloque a segurança pública no âmago da questão. O que realmente evidencia - e o que poucos estão reparando - é que é um caso clássico de fanatismo. O ato covarde e incompreensível do carioca sobre as crianças em pouco difere de, digamos, um homem-bomba do Oriente Médio. Ambos agiram por meio de uma errônea noção de fé, onde sua crença se transcreveu em violência que, nas mentes transtornadas desses homens, é justificável sobre a alegação divina.
Puro e simples fanatismo religioso. Como qualquer fanatismo, é perigoso e não abre espaço para argumentação, já que fanatismo é absolutista. É como alguém, por exemplo, fanático por um artista - ele é perfeito e ponto final, sem nenhum erro, sem espaço para argumentação. Porém, com religião, é algo especialmente complicado. Religiões já ditaram e continuam a ditar o futuro de pessoas que precisam de algum motivo para viver, como se sua vida já não fosse suficiente. No religioso, elas levam as palavras que recebem na literalidade, fundamentalismo e com isso podem se encarregar de um tipo de missão divina, como se ser superior que acreditam os mandou com um trabalho.
A carta do carioca assassino evidencia esse grau de retardo, com suas referências a pessoas impuras e alegando estar agindo com base na justiça. É chocante ler algo assim, me deixa em uma grande dúvida em relação a um ser que consegue cair em tanta ignorância. A crença deixa a pessoa cega - e, cada um com seus credos, mas reserve sua fé para beneficiar a si próprio, a sua moral, e não interferir nos outros.
Não estou implicitando que é culpa de determinada igreja a tragédia que aconteceu no Rio de Janeiro, mas as igrejas andam interferindo um pouco demais no nosso país laico. Você sabia que, indo a uma determinada igreja evangélica, pode se curar de AIDS ou até mesmo câncer? O extremismo religioso está por todo lado, e quem se submete a ele vai subtraindo sua racionalidade. E o resultado da perda dessa razão pode ser observado em casos como essa atrocidade ininteligível.

(não costumo escrever aqui sobre esse tipo de assunto,
mas a situação foi de um absurdo...)

mother, should I trust the government?

Vontades; atitudes; verdades; ânsias; conceitos; idéias; particularidades; direitos; sentimentos; incertezas; recusas; aprovações; conhecimento; liberdade.
Leis; infringimentos; imposições; erráticas; "moralidade"; "valores"; punição; impunidade; regulações; indexação; cerceamento; ato; constituição; corrupção; poder.
Vivemos numa dita democracia. Abaixo de um conjunto absoluto de leis maiores elaboradas seguindo (ao menos teoricamente) a constituição. Temos proibições que tem como dever organizar nossa sociedade e impedir o caos, ao mesmo tempo em que a deixa confortável para a população habitar. Temos uma quantidade pré-determinada de políticos que tem como missão fiscalizar, produzir, mudar e monitorar esse grande emaranhado de regulamentações que impede que o ser humano viva em completa barbárie, e que nosso sistema funcione de acordo com as regras econômicas. O objetivo é uma sociedade igualitária com oportunidades para todos acoplada ao método meritocrático.
Ao fim, estamos de mãos atadas. Somos submetidos à excessiva tributação, vemos um desrespeito às regras e deveres daqueles que deveriam estar monitorando essas leis, temos nossos sonhos enfraquecidos pela quantidade de papel necessária para tirá-lo do fundo do armário mental, somos esmagados por uma ineficiência vinda de todas as esferas dessa dita organização, e ainda temos que lidar com uma moral imposta pelo governo.
Temos feriados cristãos. Um homem não pode se casar com um homem ou duas mulheres não tem matrimônio concedido porque o estado afirma que o amor que ambos dividem não é digno de status de casamento. Não temos o direito absoluto sobre nosso corpo, pois o estado, com suas tradições (que não levam em conta a tradição e as crenças de cada cidadão, e sim da maioria, ou até mesmo a tradição do século retrasado) deixa o direito de livre-arbítrio com várias observações e asteriscos. Certo produto ou planta não nos é concedido, mesmo com nosso total consentimento, porque é considerado um crime pelo estado. Mas o que é um crime? E porque algo que atinge apenas a quem escolhe é considerado um crime? E como essa metodologia constitucional abre brechas para diversos outros crimes, que envolvem violência e dissociação da organização social que os que detém o poder dizem tanto defender?
Sinto um potencial emergente muito grande ao andar pelas ruas de minha cidade. Porém também percebo um pesado clima de estresse, de cerceamento e desânimo. Sinto uma ignorância pairando no ar, pairando na mídia dominadora. Sinto uma urgência muito grande de mudança, para algo que coloque a liberdade de espírito e arbítrio antes da moral que não é absoluta. Uma desregulamentação maior para a economia, para que [aí sim] podemos retirar nosso estigma de sociedade extremamente desigual. Como estava discutindo [e concordando] com uma similar amiga minha, acreditar na economia é acreditar numa contínua melhora de qualidade e condição de vida.
Sou libertário. Acima de acreditar na economia livre, acredito numa educação que desenvolva o indivíduo para fazer suas escolhas, para o mundo do trabalho, o mundo de contínuo desenvolvimento, de pesquisa, de conhecimento. Só assim esse clima de desconfiança pode desaparecer do ar.

Citação: Pink Floyd - Mother

desconstrução do rótulo

‘I don’t follow these fucking labels, for anything’ Maurice said, in a strong decided voice. ‘I don’t like men or women… I like people. I don’t care if it has a penis or a vagina, I just like it what I like. I like a person that happens to be a boy, ok, whatever. I fuck someone that happens to be a woman, the same thing you know. And I strongly believe that human nature is like this, if everyone allowed themselves to explore their own sexuality – and human sexuality is richer than Bill Gates – I’m sure we’d have a lot more of boys to explore ourselves’ he said, letting go a laughter, while Gabriel gave a smile in agreement. It made perfect sense. ‘But humans are so fucking stuck to these damn labels you know, actually, society makes us swallow their fucking pre-established concepts about everything and most of us follow society blindly. This system is so fucking stupid you know. There’s no democracy, there’s no freedom. Everything is based in some ridiculous laws who are nothing but distorted morals, and no exceptions for our country, because sadly it’s a worldwide secular thing. Pre concepts are natural of the human being, but not like this you know’ Maurice said, getting excited with the interested face Gabriel had in that moment. Maurice was a brilliant dude and loved sociology, philosophy and history – no wonder why he smoked so much weed – and Gabriel, despite being immature and a little messed up intellectually, loved to hear Maurice speaking. ‘I mean, what is so wrong with homosexuality? You like your same gender, so what? Is that an offence to a humanized God that nobody knows that even exists? Shit dude, it’s so stupid, and people are that alienated to buy this idea. And from a Presbyterian old lady to a bottom gay smoker – no pun intended – we are all really alienated. It’s sad and kind of difficult to think about it, because it just gets deeper and deeper and more worrying, but I do believe is true. You take your conclusions’ he said, giving a sympathetic smile to Gabriel. Maurice found Gabriel an extremely charming young boy but do restrained some stuff due to Gabriel’s fame of the industrial process that his boyfriends-of-the-week got through. It was almost like if Gabriel followed Henry Ford in his mass-production theory, but in this case was perfectly adapted to the relationships. The both of them were on a massive hungover of last night, and wine was a great way to cure hangovers.
In the end, and looking a bit around, you could say that everything Maurice said made perfect sense. And it actually did.

construção da rotina destrutiva

O sol ainda não nasceu, e o escuro impera sobre as colinas habitadas margeadas pela rodovia - que ainda não está movimentada. Um quente banho dá o ritmo para o resto do dia, que presume-se ser mais outro cansativo. O sol dá sinais de querer nascer enquanto subo no primeiro ônibus, relativamente ocupado por sonolentos rostos. No segundo ônibus, a visão do sol nascente contrastando com as águas calmas da beira-mar norte e os remadores espantando gaivotas com seus remos e remando por entre a sujeira da baía deixa a manhã com um gosto menos amargo, e até, ao menos para mim, nostálgico. A música dá o tom para o resto do dia e um café na praça inicia seu ciclo.
As luzes da escola acendem no ínicio de uma preguiçosa manhã. Os corredores vão enchendo até o primeiro sinal tocar e lembrar a todos de entrarem nas salas, sentarem nas cadeiras e aguentarem quatro horas ali sentados se conformando com o sistema educacional, com uma breve interrupção para o recreio. Dia após dia, as conversas vão ficando mais escassas assim como os assuntos, já que a mesma convivência que fez amizades agora as deixa monótonas. Todos começam a necessitar sentirem saudades para evitar aborrecimentos, comuns a quem se vê cinco dias por semana.
Eu olho para a janela e vejo o sol iluminando as ruas e as casas do centro da cidade, e a vontade de sair da sala de aula se sobrepõe a obrigação de terminar mais outro semestre com resultados positivos. Ao mesmo tempo que tudo parece passar rápido demais - olhe, ali já está o natal! - os dias, de tão rotineiros e parecidos - parece que se estendem para sempre. As férias parecem nunca chegar. Quando chegam, a rotina já era tão premeditada e seguida com tanta religiosidade que uma sensação de estar desocupado preenche minha mente.
Os melhores anos de nossas vidas não podem estar resumidos a um resumo do que seremos quando adultos. Mas eles parecem estar acometidos a isso mesmo... e parece que é exatamente isso que tais adultos querem, quando clamam por resultados e comentam do 'mundo lá fora', como se não vivessemos nele. A ideologia adolescente da ânsia por liberdade e por diversão não pode ser tão irracional assim.

dogma do mesmo/oposto

Acho um tremendo desperdício quando as pessoas se auto limitam. Quando criam uma idéia pré-concebida tão forte sobre algo que não as deixa experimentar, as vezes, essa idéia nem as deixa pensar e refletir sobre algo que não esteja ao seu imediato alcance ou entendimento. O quebra-cabeça que perdura na mente acaba sendo esquecido com a justificação do desconhecimento, ou seja, a ignorância induzida. E isso se estende à todos; criamos em diversas ocasiões essas opiniões não mutáveis sobre algo, independente do nosso nível de intelectualidade ou qualquer outra coisa. Alguns, claro, criam mais pré-concepções do que outros. Temos medo do que nos é desconhecido, e o que nos é desconhecido pode levar ao preconceito. E preconceito é medo do desconhecido, simple as that.
A sexualidade humana é um desses quebra-cabeças que perdura pela nossa existência. Alguns deixam sua sexualidade ser oprimida pelo convencional e prático, que já estava predestinado para acontecer - casar-se com alguém do sexo oposto, tendo três parceiros sexuais (também do sexo oposto) no máximo ao longo da vida, deixar esse legado conservador para os filhos. Alguns acabam se identificando como homossexuais, firmando relações com pessoas do mesmo sexo e exclusivamente do mesmo sexo, alguns chegam até a levantar bandeiras de orgulho, exclamando pela rua sua orientação sexual, o que não há nenhum problema. Mas, de novo, leva a limitação. Não acredito em exclusividade; acho que a sexualidade e a atração em si - não só sexual - está envolta em um dogma que está se convertendo do relacionamento homem-mulher para o homem-mulher mais casais do mesmo sexo. E ponto final. Ou seja; ou você é heterossexual, ou você é homossexual. E alguns incorporam esses rótulos com efêmera excitação. É um inexorável fato que você, se identificando (ou não) como hetero ou homo, irá sentir atração pelos dois sexos. Porque não é uma questão de ser homem ou mulher. É uma questão de sentir atração. É absolutamente real também que existem tendências e tal indivíduo pode se sentir mais atraído por tal sexo, mas, não se deixe cair na armadilha do rótulo. E esses rótulos não vem apenas da nossa cultura consumista, e sim de todo um desejo humano de se sentir parte de algo; traz satisfação dizer que se é algo, de facto, quando ser esse "algo" traz toda uma implicação social.
Acredito que a tendência à se sentir atraído por um sexo é uma característica pessoal, não o resultado do ambiente em que a pessoa viveu ou qualquer outra bobagem do gênero. É como ter olhos castanhos ou azuis; você os tem e pronto. É claro que ao longo dos anos eles podem mudar um pouco de tonalidade, mas totalmente eles nunca irão se alterar.

a recusa

Você pode se recusar à pensar; você pode se recusar à se envolver; você pode se recusar à refletir. É a questão do livre arbítrio, da liberdade de ser ignorante mentalmente, de sucumbir ao comodismo tentador que permeia todas as atividades de um mundo onde criatividade é reprimida e cultura abandonada desde o ensino pré-escolar em favor do trabalho mecânico e repetitivo. Você pode escolher viver uma vida patética onde tudo se encaixa em uma casa no subúrbio, filhos, algumas idas à praia e a morte. Ao escolher isso, aceita-se uma imediata e corrisiva limitação não natural de um gigantesco planeta que nos faz parecer um grão de arroz no meio de um grande campo de centeio. É a recusa de explorar, de experimentar, de vivenciar. É aceitar limitar uma vida já limitada em um intervalo rápido de tempo ao tedioso e inanimado. É viver morrendo.
E há consequências. Pense nas estatísticas extrapolantes de separações, suícidios ou uso de drogas - ou até mesmo de adeptos das igrejas pentecostais, que sugam a mente [e o dinheiro] do povo mais desfavorecido intelecutalmente por uma pesada manipulação, e o que também é feito pela televisão etc. As pessoas cansam da recusa - porque a recusa faz mal, porque vai contra nossos princípios herdados relacionados à ânsia irrecusável que o humano possui. Uma hora ou outra, no fino trecho dessa patética vida que os que recusam trilham, você para, finalmente, para pensar. E, ao fazer isso, surgem diversos novos caminhos que atiçam sua curiosidade e ativam seu paladar a longo perdido. Não se deixe cair na armadilha da recusa; ela trás graves consequências - consequências essas que após algum tempo, gasto na recusa, não tem como se voltar atrás, porque o tempo trabalha em nossa oposição. Como ouvi em algum lugar; você pode bater sua cabeça na parede, mas não pode evitar a dor que isso vai proporcionar. Você pode recusar o que lhê é natural, mas não pode evitar se sentir inútil e preso em uma vida sem sentido ou paixão.
É um tortuoso caminho que envolve diversos perigos e obstáculos, diferentemente do caminho da recusa que é uniforme porém também cheio de percalços. Eu estou na metade de minha adolescência e estou sendo chocado com a iminência de responsabilidades, de sair de casa, de escolher um representante pro meu país. Estou sendo chocado com a iminência de escolher qual caminho seguir - e o choque é grave, pois sei que as escolhas que faço nessa faixa etária vão refletir no resto de minha vida. Eu não sei de muita coisa, não possuo muito conhecimento - comparado aos mestres que cada vez mais eu valorizo, mestres literários, musicais ou até professores - mas sei que não quero seguir por um caminho pré-determinado e já atravessado por tantos infelizes que morreram sem levar muita vivência. E viver é exatamente o que eu mais quero.

Idiota aquele que ousa sonhar...

...em uma sociedade onde pensamentos próprios são ignorados, idealismo é repudiado e uniformidade é alta na hierarquia de uma população conformista.
Ainda assim, me recuso a seguir internamente um resto manipulado e me recuso a abandonar meus ideais, mesmo que isso signifique penar por aí cheio de preocupação. Também me recuso a me deixar levar por um estilo de vida cômodo onde ter uma casa perfeita e filhos saudáveis e estudiosos é o principal objetivo; assim como recuso rotular todos ao meu redor como marcas que variam apenas de procedência ou qualidade. Me recuso ser limitado a um sistema educacional tradicional e feito para se adequar às frustrações da população; me recuso a chamar um país que acabou de instituir a censura como algo válido de democracia.
Prefiro ser considerado um idiota no meio de uma epidemia de ignorância à seguir essa filosofia de fechar os olhos ao observar algo errado... ou pior: de fechar os olhos para qualquer possibilidade de conhecimento.