anti-hedonistas (de merda)

A velha senhora entregou outro olhar, cansado, abatido, e deixou que seus dedos tocassem as margens da água daquela enegrecida e poluída lagoa. O menino continuou parado, esperando qualquer palavra dela, que lhe olhava tão atentamente pelos últimos minutos. Ela se encontrava na iminência de lhe falar algo, com o peso de uma voz que já atravessara anos e anos, e a densidade daquele intervalo preenchia o ar que resistia, gélido, primaveril, nostálgico.
Finalmente, então, ela lhe dirigiu as palavras.
“Você, menino, do alto de sua juventude, pode me explicar porque tudo está tão insuportável..?” Ela diz, e ele olha, sem entender a pergunta, com curiosidade. “Porque tudo está tão chato, tão sem sentido, tão plano... você deveria saber, está crescendo no meio de tudo isso” ela continua, olhando para um ponto fixo na lagoa porém sem estar realmente observando nada.
“Como..? Me desculpe, não entendi” é a resposta que ele entrega a ela, algo que a senhora recebe sem surpresa, como se já esperasse aquela falha de comunicação, uma que não era exatamente referente ao abismo de idade entre ambos, e sim uma ruptura cultural.
“Sim... quero dizer, vocês estão no meio de tanta possibilidade, com seus computadores, com tanto movimento, e parecem cada vez mais parados... é tanta coisa nova querendo proibir a geração que está por vir, a sua, digo, são tantos artifícios querendo impedir vocês de se divertirem ou dizerem o que pensam e vocês simplesmente recebem isso de braços abertos, ao mesmo tempo em que tem tanto poder e tantas ferramentas...” diz ela, confusa, rapidamente, inicialmente parando apenas para respirar - mas, ao notar a confusão nos olhos do menino ao seu lado, volta atrás. “Não entende ainda, menino?” ela pergunta, outra vez, numa voz ríspida, irritada, porém pouco surpreendida.

A lagoa continuava linda, ela pensava. Os que passavam correndo, em suas roupas de esporte, ou com seus cachorros, ou os jovens com aquelas câmeras sofisticadas que para pouco serviam... onde estavam os risos reais, os grupos, as latas de cerveja, os maços de cigarro?
E o menino, que já caminhava de volta para qualquer outro lugar, cujo andar pausado revelava uma confusão advinda das palavras que absorvera daquela velha senhora, ó, que pena desse que vai ter que enfrentar uma época tão... chata, monótona.