imensurável

Eu acho extremamente absurdo quando eu ouço uma música e, ao longo da mesma, me encontro passeando por certa época passada. Seja pelo verão do ano passado com suas linhas delineadas na areia após intermináveis e agradáveis caminhadas pela praia, seja algum relacionamento, seja um simples porém marcante acontecimento. Me sinto corroído às vezes pela nostalgia que me invade ao ouvir tais músicas. E não pela lembrança em si, que geralmente é boa, mas sim pela percepção de mudança que toma conta - é imensurável as mudanças pelas quais passamos, especialmente nessa faixa etária, ao longo de relativamente curtos espaços de tempo. É a invasão dessa percepção que transforma a mudança em algo incômodo, porque, como poetizou Renato Russo, o imperfeito [quase sempre] não participa do passado.
Os relacionamentos, os gestos, os risos, as conversas, as ações, os sentimentos, as entradas no mar, os tropeços, as noites em claro, os momentos, as cobertas no chão, os livros... era tudo tão diferente. Diferente porque minha visão era outra (não completamente, mas bastante), minha percepção era outra, minhas preocupações eram outras. Pode ser exagero, pode ser uma reflexão absurda depois de outra ainda mais pela qual passei, mas no final o importante é valorizar o passado com toda a elementariedade que ele proporcionou; mais importantemente: toda vivência pela qual passamos, e a transformação pela qual sucedemos. Porque é sempre importante mudar, sempre. Ficar parado no mesmo lugar significa poucas memórias no futuro, o que significa que tal reflexão que estou fazendo agora não iria acontecer, pelo simples fato de uma abstinência de nostalgia. Foi bom, passou, foi excelente, passou; mudei e as pessoas ao meu redor mudaram - e não só no sentido de serem outras pessoas, porque mesmo as que continuaram enfrentaram uma profunda transformação.
Mas ainda assim, os resquícios do passado - e o às vezes irremediável sentimento de que houveram sérios erros que poderiam ter feito toda a diferença - podem ser perigosos, e é logo aí que não conseguimos fugir da nostalgia. O futuro se estende a nossa frente para aplicarmos tudo o que essa evolução de maturidade nos fez, de um modo ou de outro, aprender. Está aí para não repetirmos - e repetirmos também, porque sempre acabamos fazendo tal - velhos erros e errarmos mais para aprendermos mais. Mas sempre volto àquela questão terrível; a mudança levou o caminho certo?

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