you who ran the ship

Depois de tudo errado que aconteceu - julgando que a separação fora completamente danosa, o que não foi - fiquei dias e noites pensando não no que acontecera, mas em você.
Começou com o invariavelmente agitado dia no qual nossa relação se iniciou. Conversando com um amigo meu, você estava próximo com o namorado dele trocando qualquer confidência; ambos fora de vista - ao menos naquelas luzes confudíveis, quase intoxicantes. Eu me sentia um pouco vazio e pesado com culpa, herdados de algo que já havia passado mas ainda estava fresco em minha memória. Você chega, com um copo contendo algo colorido na mão. Parece meio perdido e meio ingênuo; seus cabelos louro-escuro estavam retocados de suor; seus olhos castanhos brilhavam ao se chocarem com tais luzes intoxicantes da boate. Todos estavam em movimento; era o auge da noite e éramos os únicos parados, enquanto o casal que nos acompanhava dirigia-se para a lotada e enérgica pista de dança. O seu amigo fez algum sinal estranho para mim que vim a entender apenas mais tarde, apenas havia entendido que se referia a você. Não havia a possibilidade de conversa, não com entendimento... você veio calmamente, logo pensei que fosse tentar algo, como os outros impacientes e ignorantes membros dessa geração agora costumam fazer, friamente e sem sentimento (citando Baldwin, como um fio ligado a uma tomada sem corrente elétrica; há o contato mas não há troca de calor, vibração, não há verdadeira energia), porém você não prontamente o fez. Me chamou para a praia, com aquele rosto tremendamente lindo e aquelas expressões corporais corporais infantis que eu passei a conhecer tão bem e pelas quais passei a nutrir tanto carinho. Ao passar pela segunda pista até a porta de saída você tomou minha mão. Nesse momento senti que não seria algo de uma noite nem algo infrutífero... e nem foi o ato de pegar na minha mão, e sim como você tomou-a.
Ao chegarmos a praia, prontamente começamos a conversar, iniciando com o relacionamento de nossos amigos, indo para particularidades deles, até evoluirmos à nossas particularidades... sua timidez (aparente e presente, mas disfarçada por um pouco de álcool) fez seu rosto ir avermelhando, assim como fez você mexer mais e mais no cabelo. Você me olhava de um jeito doce, tão doce que conseguiu quebrar a opressão que eu mesmo impunha aos meus sentimentos. Olhou para o mar observando as luzes de Balneário Camboriú, e comentou como era bonito; logo me identifiquei com esse culto a natureza seu. Começamos a falar sobre o mar, a praia, o lugar; em um momento você, me ouvindo falar, olhando em meus olhos, me beijou. Fui tomado por uma intensa energia e agradabilidade, e não era por causa do álcool consumido na noite - até porque não fora muito. Era uma noite absurdamente quente e voltamos para a pista e dançamos até estarmos encharcados de suor, e saímos correndo para dentro do mar, de roupa. Você molhou seu celular, eu molhei meu dinheiro, mas nenhum de nós nos importávamos com isso. Depois de alguns mergulhos e conversas quebradas, sentamos na beira do mar e lá ficamos até o sol nascer. Foi um dia tão legal que, mesmo após tanto tempo que se passou (... nem foi tempo perdido) consigo descrevê-lo perfeitamente, com detalhes.
E depois desse tempo que se passou, não consegui corresponder seus sentimentos à altura, por diversas razões que nem eu consigo explicar direito. Acabou, não sei se deveria acabar, e acabou se empilhando junto com meus relacionamentos que geralmente acabam por minha causa. Mas eu ainda penso bastante em você... como aquele que mitigou minhas concepções sobre basicamente tudo.

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