construção da rotina destrutiva

O sol ainda não nasceu, e o escuro impera sobre as colinas habitadas margeadas pela rodovia - que ainda não está movimentada. Um quente banho dá o ritmo para o resto do dia, que presume-se ser mais outro cansativo. O sol dá sinais de querer nascer enquanto subo no primeiro ônibus, relativamente ocupado por sonolentos rostos. No segundo ônibus, a visão do sol nascente contrastando com as águas calmas da beira-mar norte e os remadores espantando gaivotas com seus remos e remando por entre a sujeira da baía deixa a manhã com um gosto menos amargo, e até, ao menos para mim, nostálgico. A música dá o tom para o resto do dia e um café na praça inicia seu ciclo.
As luzes da escola acendem no ínicio de uma preguiçosa manhã. Os corredores vão enchendo até o primeiro sinal tocar e lembrar a todos de entrarem nas salas, sentarem nas cadeiras e aguentarem quatro horas ali sentados se conformando com o sistema educacional, com uma breve interrupção para o recreio. Dia após dia, as conversas vão ficando mais escassas assim como os assuntos, já que a mesma convivência que fez amizades agora as deixa monótonas. Todos começam a necessitar sentirem saudades para evitar aborrecimentos, comuns a quem se vê cinco dias por semana.
Eu olho para a janela e vejo o sol iluminando as ruas e as casas do centro da cidade, e a vontade de sair da sala de aula se sobrepõe a obrigação de terminar mais outro semestre com resultados positivos. Ao mesmo tempo que tudo parece passar rápido demais - olhe, ali já está o natal! - os dias, de tão rotineiros e parecidos - parece que se estendem para sempre. As férias parecem nunca chegar. Quando chegam, a rotina já era tão premeditada e seguida com tanta religiosidade que uma sensação de estar desocupado preenche minha mente.
Os melhores anos de nossas vidas não podem estar resumidos a um resumo do que seremos quando adultos. Mas eles parecem estar acometidos a isso mesmo... e parece que é exatamente isso que tais adultos querem, quando clamam por resultados e comentam do 'mundo lá fora', como se não vivessemos nele. A ideologia adolescente da ânsia por liberdade e por diversão não pode ser tão irracional assim.

2 observações:

Patrícia Müller disse...

Seu texto até me deu um pouquinho, mas só um pouquinho de saudade da escola... estou na faculdade, e as coisas são diferentes da escola, do ensino médio, dá saudade...

Gostei do seu texto, escreve muito bem!
Parabéns!

Letícia Robles disse...

Gostei muito ! E do dando graças a Deus dessa fase ter acabado pra mim (eu espero)
Parabéns !