improved means to an unimproved end

E, enquanto as ondas do mar aberto chocavam-se entre si e interpunham-se em uma torrente azul que resultava em espuma, e os pés afundavam na areia, uma tontura subitamente preencheu os vácuos entre diversos pensamentos que me rondavam de forma suspeita, me rondavam quase me atacando, à espreita de qualquer brecha que eu resolvesse, em consciência ou não, abrir para os gritos incessantes porém surdos da nostalgia, da concepção do passado sempre deturpado por estados de espírito.
Ao primeiro passo na praia me sentia despreocupado, leve, em concordância com o que me rodeava, aceitando, integrando-me de maneira substancial ao forte vento que faziam as dunas, ao fundo, formarem uma fraca neblina.
Mas não poderia, nem queria, me afastar da reflexão que os significados que aquele azul interminável sempre trazem. Na verdade, um dos principais motivos, quem sabe o ínterim daquela sensação de embriaguez que a maresia sempre me deixa, é a reflexão. Meus conceitos são deturpados até eles serem revistos sob uma ótica desnuda de um fluxo interminável sem nenhuma interrupção ou ruído, despolido.
Essa ótica, apesar de desprovida da imparcialidade usual da mente e suas próprias conjugações, não funciona como acusador no qual o réu são minhas falhas, e sim como um elemento essencial para o funcionamento de uma livre construção, um organismo em contínua e desejável mutação - ainda que sempre servindo para o mesmo propósito.
É uma confirmação de algo que é inexprimível em palavras, a confirmação do propósito e da base, da vontade e da motivação - e de todos os denominadores que circundam esses materiais da riqueza humana.
Meus olhos se centram, sem saber bem onde focar, em todo o incrível conjunto que está ao meu redor. O mar e seus tons de azul manipulados pela luz solar que trazem um contraste imediato com o azul do céu, modulado pela nebulosidade que aproxima-se do sul. Os bancos de areia e as dunas e sua magnificência, se impondo ante construções que se elevam parecendo prontas para serem adensadas pelos grãos de areia - os mesmos que agora, em meio à crescente força do vento, se chocam contra minha perna. Ando na direção do vento, e, ainda que saiba o que encontraria, não pretendo chegar até o fim da praia, e nem me foco muito lá. Ao parar, a tontura aumenta ligeiramente de intensidade, diretamente proporcionais aos axiomas que lutam com ferocidade no cotidiano sob pressão da teimosia, e agora acham um campo livre para exposição e saem do estado de repressão, e é aí que me vem essa sensação, eu penso, e olho mais um pouco ao redor, e não me pergunto mais nada. O vento sopra cada vez mais forte, e, tão livre eu me sentia, que poderia, conscientemente, entregado à qualquer outro lugar o qual ele resolvesse resumir sua força.
(...)

Citação: título do texto de uma passagem de Henry David Thoreau em Walden.

0 observações: