mother, should I trust the government?

Vontades; atitudes; verdades; ânsias; conceitos; idéias; particularidades; direitos; sentimentos; incertezas; recusas; aprovações; conhecimento; liberdade.
Leis; infringimentos; imposições; erráticas; "moralidade"; "valores"; punição; impunidade; regulações; indexação; cerceamento; ato; constituição; corrupção; poder.
Vivemos numa dita democracia. Abaixo de um conjunto absoluto de leis maiores elaboradas seguindo (ao menos teoricamente) a constituição. Temos proibições que tem como dever organizar nossa sociedade e impedir o caos, ao mesmo tempo em que a deixa confortável para a população habitar. Temos uma quantidade pré-determinada de políticos que tem como missão fiscalizar, produzir, mudar e monitorar esse grande emaranhado de regulamentações que impede que o ser humano viva em completa barbárie, e que nosso sistema funcione de acordo com as regras econômicas. O objetivo é uma sociedade igualitária com oportunidades para todos acoplada ao método meritocrático.
Ao fim, estamos de mãos atadas. Somos submetidos à excessiva tributação, vemos um desrespeito às regras e deveres daqueles que deveriam estar monitorando essas leis, temos nossos sonhos enfraquecidos pela quantidade de papel necessária para tirá-lo do fundo do armário mental, somos esmagados por uma ineficiência vinda de todas as esferas dessa dita organização, e ainda temos que lidar com uma moral imposta pelo governo.
Temos feriados cristãos. Um homem não pode se casar com um homem ou duas mulheres não tem matrimônio concedido porque o estado afirma que o amor que ambos dividem não é digno de status de casamento. Não temos o direito absoluto sobre nosso corpo, pois o estado, com suas tradições (que não levam em conta a tradição e as crenças de cada cidadão, e sim da maioria, ou até mesmo a tradição do século retrasado) deixa o direito de livre-arbítrio com várias observações e asteriscos. Certo produto ou planta não nos é concedido, mesmo com nosso total consentimento, porque é considerado um crime pelo estado. Mas o que é um crime? E porque algo que atinge apenas a quem escolhe é considerado um crime? E como essa metodologia constitucional abre brechas para diversos outros crimes, que envolvem violência e dissociação da organização social que os que detém o poder dizem tanto defender?
Sinto um potencial emergente muito grande ao andar pelas ruas de minha cidade. Porém também percebo um pesado clima de estresse, de cerceamento e desânimo. Sinto uma ignorância pairando no ar, pairando na mídia dominadora. Sinto uma urgência muito grande de mudança, para algo que coloque a liberdade de espírito e arbítrio antes da moral que não é absoluta. Uma desregulamentação maior para a economia, para que [aí sim] podemos retirar nosso estigma de sociedade extremamente desigual. Como estava discutindo [e concordando] com uma similar amiga minha, acreditar na economia é acreditar numa contínua melhora de qualidade e condição de vida.
Sou libertário. Acima de acreditar na economia livre, acredito numa educação que desenvolva o indivíduo para fazer suas escolhas, para o mundo do trabalho, o mundo de contínuo desenvolvimento, de pesquisa, de conhecimento. Só assim esse clima de desconfiança pode desaparecer do ar.

Citação: Pink Floyd - Mother

3 observações:

Carol disse...

Essa abstinência de empatia na sociedade me deixa indignada.

Anônimo disse...

Todo esse idealismo adolescente pseudo-marxista pós-moderno é muito fofinho e etecetera, mas duvido que você apreciaria a verdade crua de uma sociedade pós-gênero, pós-religião, pós-moral e enfim pós-governo. É bonito em teoria - como se imaginar num mundo ficcional -, porém toda a contradição, ódio e ignorância provindos de milênios de convívio social deram imagem à arte e à cultura e ao núcleo do pensamento humano, o protótipo do conhecimento: aquilo chamado instinto.

É irônico pensar que, por exemplo, o machismo praticado por milênios fez uma diferença física eterna no corpo da mulher - milênios de separação do trabalho 'pesado' e confinação na casa/família deixaram-nas com estrutura óssea mais frágil. Religião/crença (não apenas 'Cristianismo', pois culpar apenas a religião ocidental dominante parece algo que um esquerdista de 15 anos com camisa de Che diria) é um fator importante na construção social humana, para o mal e para o bem.

Retirar o humano de toda essas dualidades e colocá-lo numa utopia livre de definição (e, assim, livre de preconceito) nos faria cascas do que éramos - tecnicamente 'livres', mas sem liberdade, ironicamente - pois, enfim, a maior riqueza humana é seu potencial de pensamento livre, que transcende a moral do Todo e o resume àquilo que, no fundo, todo nós nos importamos um pouco mais: o Eu.

Egocentrismo, julgamento do diferente e associação com o igual são nossas características definitivas, e, triste como isso é, devem ser aceitas, assim como a selvageria da realidade.

Eduardo Peixoto disse...

Quem sabe você não tenha lido o texto com atenção ou não saiba o significado do libertarianismo, mas, de qualquer forma, interpretou erroneamente minhas idéias no texto acima. É o primeiro comentário que respondo, e provavelmente o mais interessante que recebi, e senti a necessidade de uma réplica. De qualquer forma, não sou esquerdista - tenho até certa repulsa pela esquerda - e, como esse blog é pessoal, e não político, o teço pela ideologia, e não exatamente fatos. Uma sociedade com menos amarras onde o propósito vital do governo é a proteção contra crimes com violência e não esse bizarro intervencionismo camuflado que torna tudo tão burocrático e a máquina tão ineficiente é absurdo e torna nossa vida mais complicada.

Usei o cristianismo como exemplo pois é o que mais interfere onde vivo, mas religiões em geral, quando dominantes, acabam que por atrapalhando todo o livre arbítrio que nos deveria ser concedido. Seja derivado do cristianismo, o judaísmo, ou do islã, é prejudicial.

Você chegou a considerar meu pensamento marxista, quando Marx acreditava na intervenção do estado em prol do trabalhador, quando na verdade isso se provou apenas centralizar poder e desmantelar uma sociedade produtiva para algo ineficiente e que por fim só prejudicou o trabalhador - teoria bonita, na prática terrível.

Ademais, só me senti ofendido pela sua inclinação à me chamar de marxista - ainda mais que você falou do beberrão Che!