A liberdade que o vento me entregava eu retribuía me apegando completamente a ele, e ali acompanhando com meu distante olhar as gaivotas que voavam sobre a baía. Que atravessavam as amenas luzes do sol de fim de tarde. Poderia ficar ali, pousando distante, me desprovendo de tudo aquilo que insistia em me sobrecarregar com. A existência me deixava imerso em surpresa, em admiração. O barulho do trânsito e a densidade da cortina de prédios à beira-mar não me perturbavam, muito menos a profundidade e a emergência da respiração que a imensidão do mar e seus significados - era tudo tão incrível, e eu me via em perfeita harmonia, reprimindo qualquer preocupação que representava muito pouco em relação à tudo aquilo, como sempre representa, o difícil é lembrar durante uma extenuante rotina.
Ainda que a coexistência urbano-litorânea me fosse extremamente pacífica e benéfica, em retrospecto oscilava, estando à procura de silêncio, mas me apaixono no meio tempo pelo barulho, e a luminosidade que trazia consigo. O refúgio me parecia ao mesmo tempo agradável mas a estabilidade expunha minha covardia, ao passo que as vias do movimento estavam mais escassas e finas, superficiais. Não pretendia decidir em nada, apenas coexistir em algum ponto entre essas duas definições - entretanto minha tendência não é o meio, e sim os extremos.
Meus olhos continuavam a seguir as gaivotas, e meu pensamento flutuava, e a nostalgia criava sua atmosfera porém ela não me sufocava, apenas integrava a memória - não naquele momento, claro. Minhas concepções clareavam e o simplismo substituía reações pesadas. Agora, estava seguindo o barco, até que observei que as nuvens formavam algo próximo de uma onda, agora com o sol já quase inteiramente coberto por elas, e o céu entrava no período transitório para a noite.
Citação: Lou Reed - Andy's Chest
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