se eu apenas pudesse fazer um acordo com deus...

...e fazer ele trocar nossos lugares.

É muita idealização, quem sabe. E nem costumo a idealizar as coisas, muito pelo contrário. Estou, em uma madrugada solitária, meio bêbado e pensando no que mais pensei nas últimas semanas; em uma única pessoa. Isso não deveria acontecer e essa única pessoa mudou tanta coisa e fez alguns relacionamentos serem desfeitos e me fez me distanciar de basicamente todos. Me fez perceber muitos aspectos defeituosos sobre mim mesmo e muitos caminhos errados que tomei em relações passadas - caminhos esses que não consegui tomar pelo rumo correto nesse pseudo relacionamento. Chorei por alguém. Porquê? Não, novamente é outro caminho incorreto. Não escolhi, porém, dessa vez. Não planejei, não controlei, não analisei corretamente. Segui as pistas erradas, e agora estou em um beco aparentemente sem saída. Estou insuportável com todos ao meu redor e extremamente instável, mas firmo compromisso de não tentar me desviar dessa pessoa por coisas que no fim não irão me adicionar nada de agradável.
Estou perdidamente apaixonado, e perdido talvez seja ainda mais correto que apaixonado. Não sei o que fazer, não sei como agir, não sei como me portar. Quero ainda sua amizade, mesmo que tenha que transpassar a tristeza de ouvir você falando de outra pessoa. Gosto - não, na verdade, adoro - estar perto de você, e não quero trair isso por uma idealização errônea minha de uma relação com você, coisa que muito, muito provavelmente nunca irá acontecer por qualquer motivo que não sei (mas ao menos queria saber, para decidir algumas coisas). Não tenho previsão de quando vou ter algo real novamente, e isso me assusta. Mas... chega de drama.

Citação: Placebo - Running up that Hill

arredores

Uma praia, um caderno e caneta. Um sofá, luz baixa e alguém. Uma bicicleta, música e sol aberto. Uma boa paixão, pequenos gestos e conversas. Um amigo, um banco e confissões. Um familiar, um copo de café e nostalgia. Um livro, fria madrugada e conhecimento. Uma novidade, complicações e mudança.
Muitas reclamações perdem seu sentido quando percebo a quantidade de motivos e pessoas que me dão suporte. Na verdade, o sentido se esvai ainda mais quando as possibilidades ao nosso redor vão se tornando mais evidentes e ao mesmo tempo mais infinitas. Decisões confundem, alguns te trazem ainda mais incerteza, mas ainda assim sempre resta uma inexorável expoente: recomeçar. Muitos dizem que é impossível recomeçar sempre, mas isso é uma grande mentira, porque ela requer poucas coisas, já que um recomeço pode significar diversas coisas; pode ser um novo relacionamento, uma nova cidade, um novo estado de espírito. Requer algumas vezes força e coragem, às vezes devido a própria falta desses dois recomeçamos. Sentimentos pesados trazem leveza pela nova significância que eles dão a pequenas coisas e como podem anular a superficialidade. Não é possível mudar e recomeçar tudo, temos nossa própria elementariedade que nunca vai se alterar, porém podemos moldar novos sentidos e caminhos com o livre arbítrio que acompanha silenciosamente o ser - digo silenciosamente porque raramente percebemos essa liberdade que nos permeia, e percebê-la em sua integralidade pode ser perturbador. Mas, ainda assim, é importante que tenhamos o senso crítico necessário para não vivermos amordaçados ou amargurados, já que, olhando para o horizonte infindável do mar azul em um claro dia de primavera, achamos o necessário para todo o resto.
Ou tudo pode ser pura bobagem idealista e na verdade a constante pressão e adversidade na qual nossa vida é prensada transformou-a em uma limitação insuportável. Mas nunca acreditaria nisso.

you're so young, so sweet and so surprised

Não sei mais o que pensar porque já não tenho mais o mínimo controle do que se passa pela minha mente. Muitos sentimentos e pensamentos conflituosos vão e voltam por ela; não consigo decidir qual torrente de idéias seguir. Talvez seja muita ambição querer algo concreto sem dúvida ou confusão, porém eu queria isso. Não estou muito confuso, sei do que quero, só não sei se realmente vale a pena querer. No fundo sei que vale, porque é algo real, e sentimentos dessa magnitude - magnitude tal que mudou todo meu panorama pessoal - não deveriam simplesmente ser evitados porque depois muito provavelmente vão machucar um pouco. Evitar aumenta o machucado, não o evita, tive várias provas disso. Até porque é legal ficar pendendo dessa maneira, é interessante explorar as possibilidades e complexidades de nós mesmos. Alguma coisa acontece dentro de mim, chame você de reação química ou princípio de hipertensão, que me faz mudar completamente de humor, numa questão de alguns minutos falando sobre qualquer coisa idiota com você e se deixando levar pela sua estratégia de criança do primário. Não sei o porquê, vai ver é seu aroma, ou sua inquietação, ou esse incipiente modo que não aceita críticas - não que isso me atraia, mas não acho muitos motivos. Mentira, acho muitos motivos, muitos, principalmente quando estou com você. Mas não é possível isso ter acontecido comigo tão rapidamente e... com alguém tão diferente. Quero te conhecer, ficar perto, ter algo real... me esqueceria do controle e do resto de minhas infundadas paranóias em um relacionamento com você, e na verdade nem seria tão difícil.
Não quero aceitar tudo isso porque não sei administrar sentimentos, não sei lidar com eles, não sei aplicá-los na vida real. Nem em palavras sei ao certo porque é difícil admitir certas coisas que deixam meu chão desnivelado. Mas não é possível recusar, talvez nem queira. Estou gostando disso, mas estou em iminência de sofrer uma grande queda caso você insista em continuar na bolha de sua limitada vida pessoal, o que é bem possível. Pode acontecer, pode não acontecer... mas, independente da forma que tomar essa indefinida pseudo relação, nas últimas semanas muito mudou, e continua a mudar. Muito.

for sure, l.

Citação: Interpol - Rest my Chemistry

...surfer,

do I have to keep up the pace...
to keep you satisfied?

things have gotten closer to the sun
and I've done things in small doses
so don't think that I'm pushing you away
when you're the one that I've kept closest...

The xx - Crystalised

não entendi suas demandas,
também finalmente sinto algo real e... você não está mais no meio disso.
(infelizmente ou não)

chegue perto, minha resistência está baixa

Foi uma questão de minutos em uma fila com você no meio de um intenso e grosseiro fluxo de pessoas para eu ir de chutar paredes à observar a beleza de um fim de tarde.
Tem algo no seu sorriso... algo no modo que você me analisa com curiosos olhos castanhos... no modo como algo que me deixa bobo como um velho cachorro recebendo atenção. Me conforta quando você transparece algo mais do que essa impenetrável personalidade que sempre parece querer o controle de tudo e o poder em mãos, e isso em relação também as pessoas ao seu redor. Hoje transpareceu, e afetou o resto do meu dia - ainda está afetando na verdade. Na realidade, se sua infantil mente já percebeu, você realmente tem algum poder, ao menos sobre mim. E ao mesmo tempo que odeio esse poder que você vem exercendo indiretamente (ou não) sobre mim, também gosto... me deixou, na verdade, com baixa resistência. Baixíssima.
Quero passar tempo com você, conhecer você de perto, fazer você descobrir algo além de sua redoma. Você quer, eu sei, percebo. Pode ignorar o que eu falo, pode apenas levar em conta seus interesses porque, bom, você se acha tão esperto. Mas aviso que é inevitável em algum momento.

Citação: Dirty Pretty Things - Come Closer


quase hipocrisia

Não consigo mais entender muitas coisas, não como eu as fingia entender. Antes tinha em mente que era tudo plano e sem muitos mistérios, que as pessoas fantasiavam e idealizavam tudo demais, não entendia como elas aguentavam tanta ficção. Essa visão unidimensional das coisas está se provando totalmente errada, ao passo de todo o resto. Isso ilustra a percepção de que nunca soube muito bem como lidar com as outras pessoas ao meu redor e seus modos de pensar e agir, e não gosto nem um pouco de sentir grande frustração advinda dessa inabilidade.
Me sinto perdido e confuso, mas talvez me sinta, principalmente, sensível. É, definitivamente; me sinto sensível e propenso à instabilidade. Corroborei minha ideologia pessoal com a vulnerabilidade que me invadiu e [ainda] sinto como se sempre estivesse distante de todos e que nunca vou ter algo real [e que funcione] com alguém. Já me senti assim antes e é difícil transpôr tais sentimentos em ações, primeiro porque há uma barreira imperceptível que me deixa involutariamente retraído e segundo porque as pessoas simplesmente parecem muito complicadoras para um envolvimento. Tal ponto de vista mudou extremamente nos últimos tempos, porém ainda assim não tenho um comportamento condizente com essa mudança. Essa falta de crença na complexibilidade de meus relacionamentos agora se volta contra mim; e não da forma de alguém e sim na forma de pensamentos contraditórios.
Eu estava bem antes, talvez imerso em uma sensação superficial de bem estar, mas... já livre de qualquer peso que adquiri. Porém fui atingido por algo - alguém, dessa vez - inesperadamente, e de um modo inimaginável. Pode ter me tirado desse estado de bem estar porém me fez ver as coisas por um prisma novo e deixou oportunidade para uma mudança de atitude a longo cobrada por algumas pessoas que convivem (ou conviveram) comigo. Não vou - nem quero, de modo algum - mudar minha essência, mas quero ficar próximo das pessoas, e as pessoas com as quais eu tinha verdadeiramente mais proximidade foram afastadas de mim... o que dificulta ainda mais as coisas. Com esses amigos aprendi a, aos poucos, como me aproximar de alguém, e com eles dividi confissões profundas e momentos inesquecíveis. São as coisas pequenas, sabem. Sempre me apoiei um pouco nessas coisas pequenas - um simples toque, o modo que sorriem para mim, o modo como as palavras são ditas. Nunca fui do tipo exagerado - demonstrações grandes de afeto sempre me pareceram muito forçadas.
Depois de um bom tempo recusando a fórmula limitada do compromisso, agora me vejo ansiando por apenas uma pessoa, ao ponto de não conseguir pensar em mais ninguém - no sentido da atração. Estou assustado e instável, quase que inflando uma paranóia sentimental que nunca tive e nunca pensei que teria. Estou bem por isso... pena que implica desestruturar outras coisas que são de suma importância.

there's something really fucked up...

...about this whole situation.
nobody told me this, but I quickly assumed.
but anyhow I don't trust very often on opinions about relationships
since most of the people always idealize so much the feelings
they have for someone else...
...and I'm just not one of those idealistic persons when it comes to the other one.
what is most fucked up about all of this is that...
...when it comes to you, I become one of those foolish idealistic people.
(and while that makes me happy, it also scares the hell out of me)

segunda azul

Estou em uma aula insuportável (presidiada por um professor homofóbico e racista) sem dormir há 36 horas e parece que tudo está chegando em minha mente de uma vez só. Na verdade, sinto que muito muda após se passar uma noite em claro. Não sei, a percepção geral sobre as pessoas ou coisas difere do normal - talvez em parte por causa da desregulada noção de tempo, que consequentemente retarda todas as outras noções cognitivas; talvez por causa da ressaca. E, além disso, estamos ainda refletindo o resto das reflexões que sempre aparecem e se desenvolvem de modo muito intenso durante as madrugadas - ao menos eu me sinto mais livre para pensar, observar, escrever, conversar... e falo isso sem nenhum proselitismo hippie ou algo do gênero. E na madrugada é também geralmente frio, o que só faz das coisas ainda melhores para o meu lado, que sou confesso amante de baixas temperaturas.
Lembro de hoje pela madrugada deitar na calçada e observar as estrelas (sob um céu sem nuvens, ou seja, estrelado) ao lado de uma nova - porém já incrivelmente próxima - amiga. Discutimos essa coisa do culto à natureza e argumentamos que não há sentido em tanto estresse e reclamações com vistas como essa que eu e minha amiga estávamos tendo; ou quando se pensa na sobreposição de nosso minúsculo tamanho em galáxias de oportunidades. Não que isso seja algo determinante para achar a raíz da solução de cada problema nosso, mas quando mais você percebe que descobertas não são delimitadas... menos você se importa com a solução de problemas, e sim com a criação de novas perguntas - veja bem, perguntas.

escrito dentro de uma sala de aula,
em uma ensolarada segunda-feira, de céu azul e aberto.
Citação: New Order - Blue Monday

how good it can be

Não me encanto com a pressa, apesar de ser impaciente. Não gosto de exercer ou receber muita pressão, apesar de minha personalidade ter traços impositores. Também não gosto de influência ao ponto de alienar, porém acredito no poder da propaganda. E, nesse caso em específico, acho que todos os listados acima são ações ainda mais repelíveis.
Acho - na verdade não acho, tenho certeza - que tudo seria diferente se não envolvesse tanto sentimento e preocupação em consequência do primeiro. Gosto de estar do teu lado, de ouvir sua voz, de sentir o aroma do seu hálito. Não só gosto como me sinto incrivelmente bem. Não me sinto assim facilmente; na verdade, tendo a evitar situações como a que me encontro agora, sempre mantendo um pé atrás. Essa decisão (auto-defesa, chame do que quiser) matou a maior parte de meus relacionamentos. Não sou do tipo de pessoa que sofre pelas outras, ou muito menos que cria um vínculo de dependência. Não gosto, recuso, abomino. Tenho imensa preocupação com os sentimentos da outra pessoa, porém só não quero chegar muito perto. Mas, às vezes... bom, às vezes não se escolhe. Fico na incumbência extrema de começar algo com você, porém mantenho-me na retaguarda porque ainda não achei instante propício para desenvolver isso - pode ser perfeccionismo advindo da paixão, talvez medo de te afastar. Ao mesmo tempo em que sei que é difícil, estou gostando desse tipo de instigação - quase como que um desafio, desafio o qual nunca tive que transpôr antes, porque antes era sempre ao contrário. Sei que não é uma competição nem nada - se bem que às vezes seus atos infantis e demonstrações pessoais deixam implícito que é. Também sei que você tem muito mais que aprender de mim do que apenas física e química; e eu mais a aprender de você do que dar um nó ou pular de uma árvore. Na verdade, o quanto mais eu penso como poderíamos estar juntos mais eu gosto dessa idéia... mas vai envolver um gigante reajuste principalmente em sua vida, mas que necessário e uma hora ou outra vai acontecer, você mesmo já deve estar percebendo isso.
Seus traços inocentes me deixam estonteante e mesmo você sendo o oposto do que me atrai na maioria das vezes... cá estou eu no meio de tudo isso (que prefiro não identificar com uma só palavra; ainda mais quando não sei direito o significado) e estou muito bem. Bem porque não tenho dúvidas e porque sei que é algo real. Bem porque não daria mais um daqueles infelizes (ou não) passos para trás. E isso representa grande mudança - talvez bem vinda até.

song for no one

from night skies dressed in clouds
morning came, your taste in my mouth
I like the way that your hair falls down in your eyes
and you blush when you smile
when sleep combs your side then far away flies
I love the way that you stare when the sleep fills your eyes

so yesterday has gone
who knows, tomorrow may bring all we'll desire
tomorrow brings the sun
kiss the world with fingers crossed
I've kissed the world with fingers crossed
I've been praised; I've been cursed; I've been blamed
and I've won... and I've lost.

Ian Broudie - Song for No One
...e eu também gosto do modo que você transpira inocência ao sorrir.

da maneira que conseguimos

Passei nas últimas semanas por um intenso processo de afastamento. Afastamento de pessoas, de ideais, de rotina, do estudo. Estou completamente abismado pelo grau de afastamento que obtive de pessoas que sempre foram muito próximas a mim e que, na verdade, eram as únicas pessoas para as quais eu abria meus sentimentos. E o que mais me surpreende é que, mesmo que eu esteja gastando mais do meu tempo dentro da escola, na verdade me afastei de grande parte das pessoas de lá. Estou terrivelmente sensível e, quando alguém me irrita ou me machuca de algum jeito, tento não protestar para evitar conflitos desnecessários - já que, como opinião forte e teimosia são características minhas, o conflito iria provavelmente se estender. Porém, ao não protestar, consequentemente me fecho, o que provoca o afastamento. Estou enjoado do moralismo, porque como a moral é algo pessoal, então ela varia de acordo com a pessoa - o que faz com que isso me atinja, já que seguindo tal raciocínio outras pessoas não terão o mesmo pensamento que eu e isso me irrita. Dessa vez não é [só] uma questão de egocentrismo, é de sensibilidade também. E na verdade sempre achei pessoas moralistas demasiadamente como insuportáveis e despejáveis.
As pessoas que eu julgava mais bem me conhecer (e realmente é fato consumado) me cobraram mais atenção e não perceberam que meu calendário não é flexível e eu tenho compromissos que realmente preciso cumprir - ao contrário deles. Não que eu esteja criticando eles - sim, eu não me afastei só por causa da escola, mas foi algo involuntário - porém eles demoraram à entender meu lado (logo quem deveria ter entendido mais rapidamente, ainda mais porque já passamos por isso antes no ano passado). Mas isso não vem ao caso também, porque entendo eles e seus motivos.
Sempre fiquei muito bem com minha solidão. Não necessito de pessoas ao meu redor - pelo contrário, fico irritado com muitas. Gosto de atenção, também de ser o centro das atenções de vez em quando, mas não necessito disso. Não me sinto bem correndo atrás das pessoas pela vulnerabilidade que isso envolve, mas sempre que recebo respostas positivas ao fazer tal coisa fortaleço a idéia de que exposição pode ser benéfica. Sou bastante sociável porém tenho dificuldades absurdas para me aproximar de alguém, e na outra linha facilidade para me afastar - não gosto de depender dos outros (na verdade, odeio, abomino), talvez por isso se aproximar seja difícil, pelo medo da dependência. Agora me vejo com independência arrasada; me vejo no meio de algo complicado e no meio de uma decisão que ainda não tomei. Estou me segurando porém minha impaciência está asfixiando a espera - que acho necessária no momento.
Quero me reaproximar de quem me afastei e que tanto gosto. Quero voltar a ser quem eu era com as pessoas com quem estava. E escrevo isso da casa de um velho amigo que está choramingando o tempo todo desde que cheguei o porquê do meu afastamento. Estamos bem de novo e surpreendemente hoje não está sendo difícil driblar a infantilidade dele. Depois seguiremos na madrugada para o trapiche e dividiremos conversas e cigarros ouvindo as ondas batendo na grossa areia da praia. E a nostalgia batendo forte permeada por músicas do melhor estilo trilha sonora.

mentes retrógradas/saudosismo

A ideologia, a cor, o suor, a mancha, a coragem e, acima de tudo, a vontade deram lugar ao comodismo, ao conformismo, a sombra e ao esconderijo. E deixo o tom saudosista fluir por aqui porque é realmente sobre isso que o texto é mais sobre. Não escrevo tratando tais palavras como algo absoluto, só as digo em um momento cínico de reflexão.
Estou achando tudo e todos muito superficiais - incluindo eu. Tudo muito hipócrita e os erros são identificados errôneamente, quando na verdade nem são erros. O falso moralismo se impregna como um vírus; ou como igrejas evangélicas neopentecostais se impregnam em bairros pobres. Está tudo muito entregue nas mãos, ninguém liga mais pra nada e tudo parece estar fadado ao mecanismo do faz, processa e morre. Está tudo fácil, não há mais gosto pelo trabalho ou pelo lugar onde se vive, os adolescentes se entregam com tudo à facilidade da ignorância - a gigantesca maioria deles (minha faixa etária, na verdade) fala de aparências e... aparências. Ninguém parece mais refletir sobre nada, e também parece que não há nada conspirando para que se faça tais reflexões. Você entra na pré-escola para te preparar para o ensino fundamental, que te dá (ou ao menos deveria) as bases para o ensino médio. No ensino médio você é preparado para o vestibular; passa no vestibular, entra em uma instituição de ensino superior para ser preparado para algum trabalho; trabalha; se aposenta caso consiga driblar todos os percalços envolvendo possibilidades de morte durante a meia-idade e... bom, morre. É só isso mesmo? Parece que todos estão se contentando com o sim. Não estou aqui impondo uma dicotomia revolucionária, só estou realmente abismado após tal reflexão da capacidade de comodismo e hipocrisia dessa população - população historicamente batalhadora que é a dos brasileiros.
Pessoalmente acredito no progresso - acredito no desenvolvimento, na mudança, no futuro. Mas estou confuso com as consequências benéficas de tal progresso... quando ele parece parar por aqui, porque ele não deveria parar. O pior, e é por essa possibilidade que nutro mais aflição, quando o desenvolvimento para na cabeça das pessoas. Quando você seu pensamento nunca evolui, quando sua mente não se expande. Mas não é tempo de pensar nisso, refletir indo tão fundo na psico humana não é algo para minha idade.

o eu irreconhecível

Eu não estou reconhecendo o jeito que venho agindo e o modo que venho pensando nas últimas semanas. É como se houvesse sofrido uma blindagem emocional ao contrário, porque tudo parece estar girando em torno de uma coisa... que pode ser o preceito de um sentimento ou realmente algo real, se bem que isso não importa muito, o que importa é o fato de eu estar absurdamente bobo por alguém. Eu já fiquei assim antes, mas nunca me submeti a tal nível de exposição pessoal - estou muito incomodado porque é a primeira vez que eu gosto de alguém e demonstro isso abertamente. Particularmente não gosto de aparentar fraco e indefeso aos outros, ou até mesmo sentimental, porém está sendo, por algum motivo desconhecido de minha parte, inevitável. Sinto como se eu próprio houvesse ultrapassado o limitrofe dessa exposição, e definitivamente não gosto disso. Mas não há como voltar atrás, e nem sei se, caso fosse possível voltar, mudaria muita coisa. Na verdade é que estou gostando bastante de tudo isso, porque parece autêntico e é preciso mais do que algumas palavras - nunca disse que iria ser fácil com você; você infantil, inexperiente e retraído pessoalmente. Hoje confirmei o que suspeitava, e estou em estado de êxtase interno - contido, claro.
Também sinto que estou em um divisor de águas pessoal. Estou ao ponto de trocar coisas já antigas e seguras na qual sempre manti como meu apoio (não como um estepe; não sou desse tipo) e pelas quais sempre mantive um pé atrás em relacionamentos sérios por alguém instável e bastante diferente de mim. Não estou me entendendo - sempre fui racional e pé no chão, parece que estou abandonando todos meus ideais, ou ao menos um estilo de vida. Me afastei dessas pessoas e só sinto vontade de conversar com eles atualmente, e isso seria algo inimaginável para mim há pouco tempo atrás. Mudança é bom; aceitar riscos de vez em quando é bom. Estou corroborando meu ponto de vista e trocando minha rotina por alguém; minha independência está sofrendo um forte baque e às vezes sinto como se minhas passadas frustrações amorosas estão sendo colocadas em jogo ou mesmo transpostas agora como forma de compensar os erros passados. Não me arrependo de muitas coisas, e mesmo que tivesse apostado as fichas em algum romance no passado, sinto que não teria crescido tanto como cresci mentalmente. Hoje, porém, é um momento diferente e me sinto pronto para encarar algo mais sério - talvez essa coisa de 'quando você encontrar alguém certo vai saber' é pura ladainha, porque a verdade é que às vezes temos que pular de cabeça e abandonar qualquer que seja nossa tradição pessoal.
A verdade é que mudar é importante e estou bem por estar mudando. Mas ainda sim tento me controlar, não quero ser levado pela correnteza de alguém que não seja eu mesmo - não é do meu feitio. E, apesar de estar um pouco irreconhecível para mim mesmo, talvez eu esteja me descobrindo mais - descobrindo novas façanhas internas, novos sentimentos, novas possibilidades. E nunca me senti tão pronto para isso como agora.