Era outra manhã, outro café. Seus olhos castanhos apresentavam um aspecto continuamente triste, quase acomodado com a tristeza. Sua postura era de um cansaço, porém não exatamente físico, e sim psicológico - facilmente confundido com, talvez, sono. Ainda assim, suas feições estavam descansadas, infantis, ainda que de tempo em tempo se contorcessem em meio ao gélido ar.
No meio da multidão, seus pensamentos enevoavam em meio ao intenso frio matinal. Enevoavam representando uma clara dúvida, um borrão que aliciava-se a tendência de reprimir o que quer que incomodasse uma pretendida - e ao mesmo tempo utópica - calmaria sentimental.
Olhava os passantes sobre seu copo plástico, já quase vazio, olhava-os desatentamente com a cabeça um pouco baixa. Um olhar mais atento notaria um profundo desalento; porém a rapidez obrigatória imposta pelos andares corridos nunca deixaria espaço para tal parecer. Mordia as bordas do copo sem prestar a mínima atenção nessa ação, e estava longe e cada vez ia mais, até que uma brisa o acordou do devaneio. A distância da reflexão em pouco representava uma percepção, apenas uma visão irreal que lhe trouxe um meio-sorriso.
Estava cansado das percepções, de qualquer forma. Não exatamente delas, afinal, lhe eram um porto seguro e lhe requeriam tempo ao contrário se perderia sem balanço, entretanto aos poucos ia se extenuando de quão fundo ia em suas exageradas conclusões estacionárias.
Afinal, era bom deixar o teor baixar, deixar-se levar e diminuir a exatidão e o cinismo que tomara conta dos cenários.
Seus olhos, além da epiderme melancólica, transmitiam isso, e emitiam em diferentes proporções, em diferentes maneiras - porém eram especialmente fortes nos primeiros momentos da manhã, no primeiro gole de café.
Citação: David Bowie - Oh! You Pretty Things
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