Eu os via sobre uma visão mais clara, a cada gole. O café tinha gosto requentado porém era forte, e, amargo, funcionava como um excelente aditivo ao primeiro cigarro, naquela manhã preguiçosa e agradável. A chuva caia sem pressa, e prendia o frio deixando o vento mais gélido. Poderia dividir uma cerveja naquele exato momento com qualquer um daqueles que nas calçadas dormiram, que delas despertavam, ao primeiro raio de luz, que chegavam encharcados e com olhos perdidos e continuamente flagelados pela vida na rua. Talvez a familiaridade e certo aconchego que emitiam provinham da quantidade redobrada que necessitavam para as noites invernais. Trabalhadores chegavam também, mais rígidos porém paternais, e chegavam com seus olhos vermelhos e cansados, prontos para algumas doses antes de encarar o ritmo das construções ou da segurança privada. Um afirmava, em ode à vida boêmia, como sua mulher não o deixava mais beber durante o dia, o que logo justificava suas escapadas diárias aos botecos. Alguns assentiram com a cabeça, outros me espiavam - era, sem sombra de dúvida, o freqüentador de menor idade dali, e, de qualquer forma, naquele lugar pouco me aventurava para além da cafeína e da nicotina. Meu início de dia, porém, era compartilhado ali, com aquelas vagas idéias, com aqueles acomodados à suas próprias feridas, com aqueles cujas mentes me soavam muito mais interessantes do que aqueles que corriam para métodos ortodoxos ao primeiro menor que seja tropeço.
Aos poucos iniciava conversas, aos poucos não ganhava mais os olhares de surpresa com minha estada ali. Aquelas linhas de vivência que eles expunham com clareza por seus rostos castigados, pela quantidade de cachaça nos copos plásticos.
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