travessia de outono

Estava lendo o que venho escrevendo nessas últimas semanas. E também o que escrevi, ano passado, no ano anterior. O que sentia. O que ando sentindo. É inevitável traçar paralelos entre o amadurecimento e essas mudanças repentinas de humor, tão repentinas que andam se tornando cansativas. Ando sem muito estímulo, desanimado, escapando de situações sociais pelo esforço que tenho que fazer - convenhamos que é muito mais fácil se isolar. Essa semana, porém, marcou uma diferença das anteriores; alguma mudança está chegando. Vai ver é alegria pelo frio que finalmente chegou com alguma força, ou estou ocupando minha mente com leituras agradáveis, ou ando em companhias agradáveis. Parei de me auto-indagar tanto e estou me sentindo mais relaxado.
Achei estímulo em que geralmente acho estímulo; em caminhadas acompanhado apenas de música, em uma boa leitura, em um copo amargo de café preto, em uma manhã cinzenta, em observar meu cachorro quase dormindo em um degrau das escadas. Não que em algum momento isso não tenha me agradado, mas aos poucos estou voltando a parar mais para tais observações, deixando de tantas preocupações mesmo quando nem sei (porque nem tenho) com o que me preocupar. Devo dizer que alguém ao meu lado faz falta, ainda mais quando nunca fiquei sem em mais de três anos. E faz imensa falta - provoca até certos sintomas abstêmios. Porém, olhando do outro lado do prisma, de algum modo isso vem corrigindo todas aquelas linhas de relacionamentos paralelos que se misturavam e se confundiam. Não que eu me incomodasse tanto assim com elas, mas... é, nunca mantive tanta fé nas pessoas assim para depender delas, de qualquer maneira. Para ser mais sincero, gostava delas, profundamente. Assim como gostava das pessoas com quais criava tais laços.
Não quero esperar mais por algo, porque no fim acabo criando expectativas fora de contexto. Quero me focar no que deveria estar me focando nesse ponto, mesmo não conseguindo como idealizo. Me sinto bem e com uma vontade de sair de casa, mas não para me entregar ao movimento desenfreado, e sim para observar, para conversar, conhecer. Para mudar mais uma vez.


"Que quantidade infinita de energia desperdiçamos a nos proteger contra crises que raramente chegam: uma força capaz de mover montanhas; e no entanto talvez seja justamente esse desperdício, essa espera tortuosa por coisas que nunca acontecem, que prepara o caminho e nos permite aceitar com sinistra serenidade a besta que finalmente conseguimos ver" - Truman Capote, Travessia de Verão

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