Que vivemos em um país com índices altos de homicídios e crimes violentos, isso todos os brasileiros sabem. Mas o evento que se deflagrou naquela escola pública carioca nessa semana não evidencia exatamente isso, mesmo que coloque a segurança pública no âmago da questão. O que realmente evidencia - e o que poucos estão reparando - é que é um caso clássico de fanatismo. O ato covarde e incompreensível do carioca sobre as crianças em pouco difere de, digamos, um homem-bomba do Oriente Médio. Ambos agiram por meio de uma errônea noção de fé, onde sua crença se transcreveu em violência que, nas mentes transtornadas desses homens, é justificável sobre a alegação divina.
Puro e simples fanatismo religioso. Como qualquer fanatismo, é perigoso e não abre espaço para argumentação, já que fanatismo é absolutista. É como alguém, por exemplo, fanático por um artista - ele é perfeito e ponto final, sem nenhum erro, sem espaço para argumentação. Porém, com religião, é algo especialmente complicado. Religiões já ditaram e continuam a ditar o futuro de pessoas que precisam de algum motivo para viver, como se sua vida já não fosse suficiente. No religioso, elas levam as palavras que recebem na literalidade, fundamentalismo e com isso podem se encarregar de um tipo de missão divina, como se ser superior que acreditam os mandou com um trabalho.
A carta do carioca assassino evidencia esse grau de retardo, com suas referências a pessoas impuras e alegando estar agindo com base na justiça. É chocante ler algo assim, me deixa em uma grande dúvida em relação a um ser que consegue cair em tanta ignorância. A crença deixa a pessoa cega - e, cada um com seus credos, mas reserve sua fé para beneficiar a si próprio, a sua moral, e não interferir nos outros.
Não estou implicitando que é culpa de determinada igreja a tragédia que aconteceu no Rio de Janeiro, mas as igrejas andam interferindo um pouco demais no nosso país laico. Você sabia que, indo a uma determinada igreja evangélica, pode se curar de AIDS ou até mesmo câncer? O extremismo religioso está por todo lado, e quem se submete a ele vai subtraindo sua racionalidade. E o resultado da perda dessa razão pode ser observado em casos como essa atrocidade ininteligível.
(não costumo escrever aqui sobre esse tipo de assunto,
mas a situação foi de um absurdo...)
1 observações:
O homem-bomba comete o que comete não apenas por religião - mas por motivos políticos e pelo "bem" do grupo que faz parte -- o credo é apenas o estopim para motivar seu ato final.
E isso também funciona como comparação ao ato desse indivíduo - ele não matou pela religião, mas sim ao ser influenciado pelos dizeres das instituições - e com 'instituição' não apenas faço referência à igreja, mas às diversas outras instituições que essa pessoa provavelmente frequentava (família, amigos, trabalho, mídia, educação) e que possuem em seu cerne valores religiosos distorcidos de forma a concordar com a normatividade social; tal ramificação da religião nos ambientes não-religiosos mostra-se ainda pior quando há a realização de que estamos em um Estado supostamente "laico", e neste ponto concordo com a sua opinião.
O núcleo do problema não se encontra na religião em si ou mesmo no culto, mas na presença da crença em meios que deveriam ser seculares.
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