Qual é sua estrada, cara? - a estrada do cara sagrado, do cara louco, do cara arco-íris, do cara dos peixes, qualquer estrada... é qualquer estrada para qualquer um de qualquer forma.
On the Road, Jack Kerouac
Pode soar como algo cliché, mas talvez seja menos batido do que falar sobre relacionamentos - ao menos nessa esfera da escrita.
Acho intrigante, instigante, agoniante, até irritante, pensar sobre o quão frágil é nossa vida. O quão tênue é a intensa linha que separa nossa vida do fim da mesma, e o quão pouco acabamos levando isso em conta. Quer dizer, mesmo sabendo que, a cada segundo que se passa, a cada rua que atravessamos, a cada decisão que tomamos, o risco de tudo acabar é inerente. Se não atravessarmos nenhuma rua ou tomarmos nenhuma decisão é aí que fica perigoso, pois é onde tudo acaba ficando sem sentido e inútil, porque é onde não aproveitamos essa chance à viver que recebemos na concepção - e sim, o seguro é sinal de comodidade, e comodidade é sinal de desperdício. Pode parecer alguma viagem idiota - o que, ao menos para mim, definitivamente não é; posso passar horas pensando nisso, e pode me levar a loucura, mas equilíbrio tenho de sobra.
No meu ponto de vista, uma busca pelo conhecimento [e por diversos pontos de vista que ele trás, e pela experiência que vem acoplada] e a incessante vontade de se tornar um espírito livre (e, por mais que se tente, ninguém verdadeiramente o é - ainda que seja possível ser algo próximo a isso) é algo que faz todo esse risco valer a pena. É algo que trás sentido a toda essa tortuosa e às vezes perfeitamente conturbada estrada que seguimos, firmes de que vamos chegar em algum destino idealizado. Talvez esse destino nunca chegue - até porque idealizar é perigoso e [pode ser] danoso ao extremo - mas ao fim em algum momento a estrada chegará.
Não é minha intenção escrever algo mórbido, muito pelo contrário, meu objetivo central é um ode à vida e suas várias personificações, diferenças e rumos que ela constrói. Acho incrível. Incrível toda essa paisagem, paisagem de pessoas, da natureza, de construções, é incrível. Em qualquer lugar. É só olhar em volta. Entre nós, todo esse companheirismo que se forma entre as pessoas - primariamente entre a tão importante família (seja ela de qualquer tipo).
Talvez o medo que nossa sociedade tenha pela morte consista ou na precocidade de alguns óbitos ou de cair sem ter toda sua estrada percorrida - um acidente de percurso, ou seja, sem ter feito tudo o que se queria fazer. Manter a mente aberta é essencial, sem mais. É assim que ficamos próximos do vôo que tanto angustiamos por dar. E não digo só no sentido sexual, é muito mais profundo. É muito intricado, e difícil até de se pensar, pois mexe com muitos sentimentos ao mesmo tempo.
Mas quero uma estrada de todos os tipos possíveis, todos ao meu alcance.
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