Ia ficando cada vez mais estranho, cada vez mais subversivo e bizarro, ao passo das descobertas que ele fazia acerca da real natureza do relacionamento extenso e cansativo que ele acabara de desfazer. Ele estava ali, sentado, sozinho, olhando diretamente para o mar, porém sem achar significado algum naquele cenário - algo raro, era quase como um santuário a praia para ele. Não havia muitos ao redor, talvez um grupo de turistas tirando as fotos que grupos de turistas sempre tiram, talvez uma senhora idosa fumando seu cigarro de palha, talvez um pré-adolescente pichando uma das barreiras de contenção perto do fim da praia. Ainda assim, a movimentação parecia nula para ele, não havia ninguém, não havia fluxo algum. As águas estavam calmas, a noite se aproximava rapidamente e a temperatura caía vertiginosamente. Já era possível sentir as rajadas de vento típicas do outono, e aquele clima meio úmido e gelado que anuncia a partida do verão, que parece interminável. A noite ia se aproximando, e o céu, com as nuvens antes dominantes agora se dispersando, adquiria tons rosados. A garrafa de vinho branco que havia comprado se liquidara a apenas outro gole, e o álcool não fora suficiente para afastar a sobriedade de sua irritação.
Tinha que ir para casa, voltar para a rotina. Se sentia cansado, não com sono, apenas cansado, exausto. Sabia que tinha que colocar um definitivo ponto final, queria isso, mas primeiro tinha que se desligar totalmente das amarras que o deixaram grudados inconscientemente naquela relação doentia, que mais parecia um ritual de obrigações do que um namoro. Sabia que tinha que executar um fim a esse absurdo todo, e agora já tinha certeza que iria conseguir - foi motivado pela percepção do que estava ao seu redor, quando, bruscamente, sua concentração na delineação da água pelo vento foi quebrada por um cachorro, que roçara em nele clamando atenção. Após fazer algum carinho no cachorro, reparou na senhora acendendo seu cigarro, nas crianças brincando na areia da praia, nos turistas alegremente pedindo informações a um nativo desconfiado. Havia algo em todas aquelas pessoas que o rodeava que o fascinava; talvez fosse a linha do tempo que persegue a todos nós... e era isso que o dava a certeza de que não valia a pena continuar tão preso.
Citação: Legião Urbana - Vento no Litoral
1 observações:
Nossa Eduardo!!! Que texto mais lindo. Descreve exatamente tudo o que Renato cita na canção. EXPLENDIDO!!! Parabéns, du! Bia.
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