Aquela última inspiração antes de cair, aquela última que indica algo tão lívido e tão denso que precede uma total perda de sentidos depois do mais intenso. A raiva que bombeou com exígua rapidez sangue por nossos corpos e me fez lembrar, com total aproveitamento, a capacidade de êxtase que os segundos poderiam adquirir.
Agindo na base de um impulso animal quase reprovável de tão puro e desprovido de qualquer outra pretensão, mas desenvolvendo-se em um espectro de raiva entre duas pessoas quase totalmente desconhecidas uma da outra, mas que, nas linhas divisórias de cada ato, se tornavam intrinsecamente ligadas - e era daí que uma antagônica raiva surgia, no meio de uma profunda inspiração quebrada.
Imersos em nossas próprias vontades e com cada um tomando seu respectivo papel, a importância daquilo era apenas algo alimentício, sem nenhum vínculo sentimental - porém, a raiva era indicativo de algo que perduraria além de apenas uma inspiração.
Não que vá, realmente, seguir isso, com certeza não por muito tempo. Em contraste com um total desprendimento, senti uma fúria acolhedora, logo após daquela primeira inspiração, enquanto, deitado, procurava um apoio e observava o ambiente ficar denso com a fumaça de seu cigarro.
Citação: The Rolling Stones - Dancing with Mr. D
2 observações:
Isso é lindo, expõe uma incrível veia poética. Parabéns! :)
cansei um pouco do stalking e resolvi, influenciado pelo tédio e fuga da produtividade, fazer uma pseudo-crítica pretensiosa do modo literário com o qual escreve ficção porque... bem, por que não?
segue:
tantos desses textos soam como drafts - você anotando e mapeando os vínculos e esqueletos das descrições durante os fluxos de inspiração, mas por fim não os ampliando. é claro que na 'prosa poética' aprofundamentos e pormenores são supérfluos - o uso concomitante e conciso de imagens e estados psicológicos para acessar a transcendência e atemporalidade almejadas é o bastante -, mas ainda assim: a linguagem é rigidamente superficial e enciclopédica, de um ranço acadêmico que contradiz o cru estupor jovem-suburbano-hedonista (temas abordados meio que inconscientemente) invocado nas narrativas. além disso, as construções sintáticas - acompanhadas invariavelmente de vocabulário mecânico - são áridas e por vezes confusas, aglomerando significados diversos a cada volta da frase. não faço idéia se a fraseologia é intencionalmente intimidadora e seca ou imperceptível a você, então não opino. é perceptível a influência de literatura positivista (pense Ayn Rand), beat, mainstream-pop-transgressive e coisas assim; acho que sua escrita demonstra uma certa afinidade e se beneficiaria com a leitura de autores como Samuel Beckett, James Joyce, Flannery O'Connor, Chekhov, André Gide e alguma filosofia como J.L. Mackie, Ray Brassier, Stirner e Wittgenstein.
/pretentious hipster bullshit wankery
ah, o namedropping de Coltrane e Thelonious Monk e bandas de dad-rock nos títulos é kinda passé; recomendo explorar Pharoah Sanders, Matana Roberts, Noah Howard, Ornette Coleman e Alice Coltrane quando tiver passado do nível-de-entrada do bebop e querer adentrar o free jazz e avant-garde jazz/third stream.
do Coltrane recomendo 'John Coltrane and Johnny Hartman', que é o jazz mais aprazível existente, e Kulu Sé Mama/Ascension/Olatunji Concert se quer conhecer o lado extremo, abrasivo e catártico que Coltrane atingiu durante os últimos anos de sua vida.
existir é monótono life's boring mamão é doce ok-bye
Postar um comentário