Ele continuou andando, a passos rápidos, quase que fugindo. Estava em êxtase, aquele perdido, aquele dissolvido em paranóias crescentes e queria correr e fugir do frio que andava sentindo com tanta força - ainda que agora estivesse sentindo um estranho calor, sentia seu rosto quente, sentia-se em urgência e não sabia o que fazer em relação a isso.
Ao olhar ao redor, as preocupações nos traços dos rostos dos que esperavam o ônibus em silêncio, incomunicáveis, com uma tensão da pressa e aparentemente sufocados - e, como usar incomunicável com tantas feições a mostra?
Uma cortina de poeira se elevava ao fundo da estrada, e, naquele fundo, algo clamava e inspirava mudança. E ele sentia ela em cada movimento, sentia em sua conturbação solitária, sentia no gosto de café amargo da sua boca, sentia em todo e qualquer movimento que construía e reconstruía a máquina viva de seu cotidiano.
E resolveu andar, a passos mais rápidos, até o próximo ponto, e se via imerso naqueles pensamentos gastos e pensava nos últimos minutos, onde cedera parte de sua solidão para outro ser, onde questionava a densidade do extremismo que levava a cabo por sua ideologia e suas ações.
Estava pondo em dúvida sua própria fuga, se não era uma limitação errônea limitar-se a si próprio, e se não era esse o motivo daquela fuga mental, se era mesmo a frustração com lá fora - e como poderia, sendo esse ‘lá fora’ tão incrível e fascinante? - se, no fim, não era frustração com sua própria incapacidade de administrar aqueles que o rodeavam junto com os traços mais intrincados e absolutos de sua personalidade...
Citação: título adapto de trecho do livro de Henry Miller, Tropic of Capricorn.
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